Nascido nas páginas dos
famigerados livros-jogos, Titan, como cenário de fantasia estreou em
1982, com a publicação do Feiticeiro da Montanha de Fogo. Criado pelos
britânicos Steve Jackson (não confundir com o xará americano criador do GURPS)
e Ian Livingstone para suas campanhas caseiras e publicações.
No Brasil, deu as caras nos
anos 90, trazido pela Editora Marques Saraiva e foi seu sombra de dúvida, a
porta de entrada de muitos para o nosso hobby. Lembro que foi o Miguel Peters
(parceiro do blog) quem me emprestou O Feiticeiro da Montanha de Fogo por alguns
dias. Morri várias vezes e não consegui terminar, mas foi uma experiência muito
boa, pois sabia que ali havia algo de especial. Mesmo que fosse uma experiência
inferior a jogar RPG propriamente dito, a ambientação era muito rica. Os desafios
bem escritos e os monstros e personagens encontrados, carismáticos. Depois desse
episódio, perdi contato com TITAN por algum tempo.
A arte dos livros é incrível! Ainda mais com o advento da OSR! |
Fichas simples me fazem feliz. |
Fui me deparar novamente com o
cenário de campanha de maneira amadora: através da aventura “As Sete Safiras da
Hidra” para Ad&d que fez sucesso nos downloads da “internet-mato” dos anos
90. Ali citavam personalidades e locações citadas nos livros jogos. E dali
descobri que havia de fato um cenário de campanha publicado em português. Comprei
finalmente em uma livraria do Centro do Rio de Janeiro o livro “TITAN – o mundo
de aventuras fantásticas” e fiquei fascinado rapidamente pelo material, pelos
seguintes pontos:
- Um cenário mais “sujo”:
naquela época os únicos cenário de campanha que possuía era o colorido e heróico
Forgotten Realms e o nobre e valoroso Mystara (não me entenda mal, gosto de
ambos), mas Allansia era um lugar de traições, deuses caídos, corrupção, peste,
Porto Blacksand com seus becos imundos fedidos a peixe podre, deuses
traiçoeiros e não apenas maniqueístas como em outros cenários.
- Livro 100% descritivo.
Isso mesmo: não havia nenhuma regra. Eu poderia usar com meu querido Ad&d,
com o sistema Daemon, ou com o GURPS (os únicos jogos que tinha naquela época).
Ricamente detalhado, o livro te inspirava com mapas, belas ilustrações (que
hoje em dia possuem aquele tão desejado apelo old school), descrições do
panteão, um calendário completo, relato das guerras mais famosas do cenário e
até da gênese do mundo. É impossível ler uma página sem ter ideia para um
aventura.
- NPCs instigantes: é difícil
esquecer nomes como Lorde Azzur, o tirano de Blacksand, Barão Sukumvit, O
Arquimago, Shareella,a feiticeira da neve, Balthus Dire, entre outros. Você
acreditava que o NPC é poderoso não pelas estatísticas e atributos altos (até
porque não havia nenhuma), mas sim pelo seu histórico, seus feitos e sua
personalidade. Verdadeiramente, uma lição para os RPGs de hoje em dia.
A saber, o material publicado
pela Marques Saraiva foi vasto, mas como aconteceu com o Ad&d da Abril
Jovem, o produto encalhou. Muitos lotes lacrados foram vendidos para sebo mas
hoje em dia, com o status de cult, vejo os livros sendo vendidos a preços
altos. Na minha opinião, existem 3 grandes pérolas no meio desse acervo: Out of
Pit (belíssimo bestiário do cenário, ao qual vale um post só pra ele), Dungeoneer
(RPG completo e simples para usar juntamente com o cenário apresentado) e o
romance “As Guerras de Trolltooth” (uma narrativa dark fantasy que parece ter saído do Apêndice N!).
TITAN como cenário básico de DCC? Sim ou claro? |
No mais, em tempos de OSR, vale a pena adotar TITAN como seu mundo padrão: Seja jogando Ad&d, GURPS, DCC, Dungeon World.
Abraço a todos e bons jogos!