No post de hoje, uma passada pelo terceiro livro da trilogia dos Avatares, que como sabemos, anos depois, virou uma série com mais 2 livros mostrando o julgamento de Cyric e as consequências diretas e indiretas do Tempo das Perturbações. Vale lembrar também que esse “último”, é escrito por Troy Denning, um trabalho conjunto com Scott Ciencin, ambos sob o pseudônimo de Richard Awlinson. Fato que se deu por dois motivos: acelerar o lançamento da trilogia e dizem as lendas, para que na catalogação das livrarias, o livro ficasse na parte da letra A, para ter maior exposição no mostruário.
Já adianto que a escrita dos dois é bem semelhante e não senti contradições entre personalidades dos personagens entre um livro e outro, preocupação natural de qualquer leitor. Entretanto, Troy Denning não cai na repetição de TODA cena usar termos como “raven-haired mage” para descrever Midnight e “hawk-nosed thief” para citar Cyric. No duro, Ciencin usa isso 90% das vezes que esses personagens aparecem. É impressionante... Por outro lado, Denning curte um deus ex machina, como veremos no final dessa resenha.
Enfim, depois das perrengues em Tantras e da batalha titânica entre Torm e Bane, nossos heróis devem rumar para Waterdeep encontrar a segunda e última Tábua do Destino, acessar a Escadaria Celestial e devolver os artefatos para Helm para que o equilíbrio e a trama mágica, sejam restaurados nos Reinos Esquecidos. Nesse percurso, inúmeros perigos aguardam o grupo, como uma companhia militar toda transformada em mortos-vivos pelo próprio Myrkul. O deus do assassinato Bhaal, totalmente sedento de sangue, matando geral para chegar até eles, e o traidor Cyric, que acabou de descobrir que se ele próprio levar as Tablets of Fate para o supremo Ao, poderá ascender como divindade no panteão de Toril e nada ficará na frente do nosso ladino, acredite!
Momento interessante é quando Cyric salva o seu antigo grupo dos soldados zumbis de Myrkul simplesmente porque ele não quer que a Tábua seja levada e Midnight sempre ingênua, lê a cena como se o ladino ainda fosse aliado deles, apesar de Kelemvor dizer mil vezes, que não há esperanças para Cyric, e que ele é definitivamente um traidor. Adon, ainda passa por sua crise de fé, mas que é melhor trabalhada nesse volume. Ele está decepcionado pelo fato de que os deuses podem ser mortos em suas formas de avatares e que se tornaram mesquinhos. Aos poucos, ele vai percebendo que o próprio Ao puniu eles pelo mesmo motivo da individualidade e esse fato, combinado com o heroísmo de Midnight e de Kelemvor, faz sua fé ser restaurada no final dessa jornada.
Outro ponto de destaque fica pela personalidade dos vilões Myrkul e Bhaal. Se Bane nos primeiros livros era uma espécie de Shao Kahn de tão caricato, Myrkul é uma força necromântica fria e calculista, enquanto Bhaal é animalesco e assustador de fato. Ele não fala, se mostrando uma força irrefreável, não sentido dor nem quando um de seus braços é arrancado! Ele continua sua trilha de sangue que só é encerrada por Cyric, portando uma estranha espada mágica de lâmina vermelha que bebe o sangue de suas vítimas. Quando ele mata Bhaal, ele descobre que ela também é capaz de matar deuses, nomeando-a assim, de Godsbane.
Uma pausa para falar dessa espada-artefato. Ela é roubada de um halfling chamado Sneakabout que vira guia do grupo por um tempo, mas que é morto por Cyric também, quando o pequeno ladrão, vê sua espada sendo usada por outra pessoa num momento de loucura bem parecida com Gollum na obra de Tolkien. Por fim, ela é uma espada consciente e tem vários diálogos morais interessantes entre Godsbane e Cyric ao longo do livro que além de maligno, vai perdendo cada vez mais a sua sanidade.
Não pode backstab com espada longa? Fale isso para Cyric então! |
Depois desses eventos, o grupo cai numa armadilha quando tenta ajudar uma caravana que está prestes a ser emboscada, com os aliados ficando presos num castelo em ruínas. A caravana mostra ser formada de mortos-vivos ocultos por mantos e capas e o grupo é então, separado: Kelemvor e Midnight fogem por um rio subterrâneo, mas vão para veios distintos e Adon é ferido gravemente por uma flecha de Cyric que aproveita o caos para atacar. É só nesse momento, que Midnight percebe a verdadeira índole e plano do ex-aliado, mas agora é tarde. Assim, o grupo perde a Tábua do Destino que eles tinham obtido em Tantras.
Midnight desce pelos tuneis até se encontrar na primeira camada do Mundo dos Mortos. Cosmologicamente, o rio desaguou misticamente em uma parte do Mar Astral denominada Fugue Plane. Lá, fatigada e entristecida pelos últimos acontecimentos, ela se reencontra com Sneakabout que novamente se torna seu guia até o Castelo dos Ossos, lar de Myrkul. Mesmo que o deus dos mortos não esteja presente, seus lacaios estão, e com a ajuda arcana e sorte, suas magias funcionam corretamente e ela recupera a última Tábua do Destino escondida. Além disso, o fato de não encontrar as almas de Kelemvor e de Adon ali alimenta suas esperanças mitigadas. Emn seguida, ela encontra mais um aliado perdido: Kae Deverell, o lorde dos Dragões Púrpuras que administrava o castelo que ajudou Midnight e seus aliados. Esse comandante fora morto e seu corpo possuído por Bhaal. Ele dá as coordenadas de um dos acessos de volta para o mundo dos vivos que ela pode pegar, já que curiosamente, não estava morta. Provavelmente por causa do poder divino imbuído nela antes de Mystra perecer no primeiro livro.
Mignight se reencontra com Kelemvor na estrada principal para Waterdeep e uma vez na cidade, vão até a Torre de Khelben "Cajado-Negro" Arunsun, um NPC bem conhecido pelos fãs do cenário e secretamente, um dos Lordes de Waterdeep. A saber, é ele quem está presente na capa do boxed set City of Splendors, o material mais completo sobre Waterdeep já escrito! Faremos dela mais pra frente aqui no blog. Então, descobrimos que Khelben não está sozinho e conta com a ajuda de ninguém mais, ninguém menos que o próprio Elminster! Juntos, eles ajudam Midnight, Kelemvor e Adon (que surge montado em um dos grifos da guarda de Waterdeep), para impedir as hordas de Myrkul que invadem a cidade. Por fim, Cyric fere Adon e mata Kelemvor, estando em posse agora, das duas Tábuas do Destino! Midnight já enfraquecida, tenta lançar suas últimas magias, mas quase todas saem de seu controle devido a Trama Mágica danificada dos Reinos.
O desfecho do livro é um festival de deus ex machina. Literalmente! Helm desce para recolher as tábuas entregues por Cyric. Ao desce também, dizendo que os artefatos só traziam os portfolios dos deuses e que muito do Panteão mudaria a partir dali. Em seguida, ele QUEBRA os dois artefatos e ascende Cyric para seu novo deus, mas dizendo que carregar os portfólios que ele carregará é mais um fardo do que recompensa e que ele sonhará com a liberdade que tinha quando mortal. Entretanto, ele dá uma recompensa para Midnight também, ascendendo a mesma como a nova Mystra, deusa da magia e restabelecendo a Trama Mágica de toda Faerun. Basicamente ele explica que ela e seus aliados foram o que trouxeram ordem para o Cosmos, e não as famigeradas tábuas. A título de curiosidade, nos livros seguintes, ainda descobrimos que Godsbane era o tempo todo, um aspecto de Mask, deus da trapaça. Também nos livros subsequentes, temos a revelação que Kelemvor também ganhou sua recompensa e ascendeu como o novo Deus dos Mortos, por todo o seu senso de justiça mostrado ao longo dessa jornada. O que é um final digno e feliz para ele e Midnight. Adon também restaura sua fé, sendo o primeiro seguidor da nova Mystra. Mas como estava falando, tudo é corrido e muito conveniente na reta final da história: a existência de uma Escada Celestial ali dentro de Waterdeep, o acesso de Midnight para pertinho da Cidados dos Esplendores, entre outros elementos. Mas, como é o romance de estreia de Troy Denning, podemos dar um desconto. Ele obteria maturidade literária com inúmeros outros livros para a TSR e posteriormente, para a Wizards.
Conclusão
Há muitos anos queria ler essa trilogia. Obviamente, é
indicada para quem curte Forgotten Realms e RPGs, mas fãs de fantasia em geral,
podem se agradar. São obras um pouco datadas (menos do que imaginava,
confesso!), mas importantes demais na história do AD&D para serem desmerecidas.
Lembro que minha campanha caseira mais longeva nos anos 90 era baseada na
premissa dos deuses de Forgotten Realms estarem guerreando em Toril. Provavelmente
li a sinopse em alguma Dragão Brasil e sem ter conhecimento algum sobre os
eventos canônicos, montei toda a aventura e as agendas de cada avatar e o
resultado foi ótimo! Meus jogadores antigos lembram até hoje das guerras do
Forte Zhentil e da minha versão do avatar de Bane, marchando com seus exércitos
destruindo a Terra dos Vales. Ler a história oficial, me transposta
automaticamente para esse tempo e só por isso, já vale a experiência!
Boa leitura a todos!
Excelente resenha! Estava aguardando pelo seu veredito final da trilogia.
ResponderExcluirValeu, Diogo! Em breve, novas resenhas literárias e de materiais clássicos da TSR. Grande abraço!
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