terça-feira, 27 de setembro de 2016

Nostalgia: GURPS

3D6 e seja feliz!
O famigerado GURPS! Criado em 1986 pelo americano Steve Jackson como o carro-chefe da editora e prometia ser um sistema de jogo genérico, pronto para jogar fantasia medieval, space opera, terror, aventura pulp, conflitos militares, old west, qualquer coisa. Aqui no Brasil, “deu as caras” em 1991 pela Devir com a 1a edição, também chamada de GURPS “Cabeça-Roxa”. Cinco anos depois, a Devir lançaria a 2a edição aqui, que ilustra esse post. Meu primeiro contato com o GURPS foi em 1997. Meu grupo já jogava Ad&d, Shadowrun, Defensores de Tóquio, Lobisomem e DC Heroes. Logo, a proposta de um jogo genérico, capaz de adaptar qualquer cenário e proposta, me chamou bastante atenção. Tento recordar agora, das primeiras impressões que tive ao comprar o livro:

  • É um livro grosso formatado de maneira enorme! Por que isso?
  • É um livro que tem muitas regras! Pra que tantas?
  • É um livro com artes estranhas: em uma página tem um mago, na outra, um astronauta, na outra um cowboy, na outra, um robô e um templário. Tudo isso co-existe?

O livro foi lançado com um escudo do mestre.
Claro, essas foram reflexões de um pré-adolescente. Depois de ler e reler o módulo básico, percebi que a formatação incomum do livro foi uma decisão editorial para manter as referências precisas com os suplementos vindouros. Logo, se no GURPS Old West americano, fala de uma regra na página 26, no livro básico em português, a mesma regra estará presente na página 26. Foi uma boa sacada. Quanto à quantidade de regras, elas estão lá como uma espécie de catálogo de opções, o Mestre vai usar apenas o que for conveniente para o estilo de jogo que deseja. Se vai narrar algo no estilo True Detective, basta ignorar regras de Vôo, Magia, e outra que não combinam, por exemplo. Além disso, várias vantagens e desvantagens deveriam ser bloqueadas pelo Mestre, dada a proposta escolhida. Tem gente por aí que não sabe disso, achando que GURPS é uma mistura louca de elementos. Quanto a arte: GURPS 2a edição definitivamente não era um livro lindo e usava uma diagramação que se dizia amigável, mas era confuso procurar detalhes apenas folheando o módulo.

Enfim: os meses foram passando e ainda não me sentia seguro para mestrar GURPS. Ficava com a impressão que precisava de alguma coisa, de uma base. E felizmente ela veio na forma de um suplemento ao qual tenho muito carinho até hoje: GURPS Conan. Já estava lendo os quadrinhos da Marvel e fiquei bastante empolgado. Agora eu tinha um norte para me guiar. No final das contas, precisava de um cenário para meu jogo. Montei uma lista das vantagens/desvantagens/perícias proibidas (algumas por motivos óbvios, outros por gostos pessoais mesmo) e iniciamos uma campanha. E foi uma experiência ótima. Finalmente havia jogado GURPS! Dali pra frente fui atrás dos suplementos que encorpavam o jogo. Illuminati e Fantasy geraram histórias que até hoje são lembradas com carinho pelos jogadores.

Mini-Gurps é ótimo para eventos!
Em seguida veio uma produtiva fase onde queria adaptar tudo o que via para o sistema da Steve Jackson Games: Senhor dos Anéis, Akira, Piratas do Caribe, adaptações essas encorajadas pela Dragão Brasil. Por fim, a imagem do jogo ficou pintada como “mega-complexo” e “com regras até para cavar buraco”. Isso ficou impregnado no consciente coletivo dos RPGístas. Até hoje. O GURPS foi tão injustiçado nesse quesito que a Devir em 1999 lançou o Mini-GURPS que em menos de 40 páginas, ensinava a jogar e permitia adaptar qualquer coisa. Uso esse livreto como argumento definitivo quando escuto falar da pseudo-complexidade do sistema.

No final das contas, GURPS é um sistema extremamente maleável e com grande capacidade para a customização de personagens. Recomendo a todos, ainda mais com a 4a edição em português e que os suplementos antigos podem ser 90% reaproveitados. Como foi a experiência com o GURPS de vocês?


 Bons jogos a todos!

8 comentários:

  1. O mestre principal do meu grupo, leu o livro e mestrou apenas Gurps Supers e Arquivo-X, uma aventura de cada. Não fomos muito longe nesse sistema. Também não tínhamos os suplementos, oficiais, usávamos material que saiam em revistas.

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    1. Usava Illuminati para mestrar Arquivo X, funcionava muito bem. Ainda tenho os suplementos antigos e volta e meia "bate uma pilha" de montar uma campanha. Muito obrigado por ler e principalmente por comentar aqui no blog. Abraço.

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  2. Comecei a jogar RPG com GURPS. Uma história engraçada, por sinal. Moro no interior, e aqui só conseguíamos produtos rpgísticos pedindo para os donos das maiores bancas trazerem da capital.

    Depois de ficar conhecendo o RPG por meio de revistas e de amigos, fui encomendar o meu e falei com o dono da banca. Eu queria o AD&D... ele olhou no catálogo dele, apontou para um código de produto que vinha com um livro de regras, um tal de escudo do mestre e 3 dados; perguntou se era aquele, e eu falei que achava que era (porque também nem sabia direito.... heehhe).
    Semanas depois fui buscar a encomenda e me deparei com GURPS. Mesmo assim, fiquei com ele. E não me arrependi.
    Minhas primeiras memórias como mestre e jogador de RPG, e situações marcantes, ainda estão impressas em minha mente.

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    1. Belo relato Rafael! É incrível lembrar como as coisas eram diferentes naquela época. Como o acesso era um obstáculo enorme de fato e cada informação contava. Abraço e obrigado por ler e comentar no blog.

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  3. Muito bom texto Ranieri. Eu acho GURPS essencial não apenas para rpgistas, mas tb para todos os autores de livros, jogos, quadrinhos, etc, que queiram criar personagens seguindo algum balanceamento.

    É realmente muito bom. Infelizmente nunca joguei, mas já li sobre algumas vezes.

    Abs

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    1. Verdade! GURPS serve como um exercício de criação de personagem ao pesar vantagens e desvantagens, tornando-o mais verossímil. Obrigado por ler e comentar.

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  4. Olá, amigo! Parabéns pela matéria! Adoro o GURPS! Eu tenho a 1ª edição brasileira, aquela da "cabeça roxa", que vc se referiu no início da matéria. Estive um tempo sem jogar RPG, mas estou pensando em voltar. Algumas dúvidas, poderia me ajudar? 1)Vc acha que devo comprar o GURPS 4a edição? Ou vc acha q dá para me virar com o q tenho? 2) Posso adaptar os suplementos de GURPS para o módulo básico 1ª edição? 3) Vi no wikipedia, que, no Brasil, não foi publicada a 3ª edição. Passou da 2ª para a 4ª, é verdade? 4) No wikipedia ainda, (que tristeza!) vi que a devir perdeu em 2017 o direito de publicar o GURPS no Brasil. É isso mesmo? Eu fui ao site da devir e vi vendendo 2 GURPS 4ª edição ( Módulo básico personagens e campanhas). 5) Estava querendo fazer uma aventura com o personagem Rocky Balboa, do Stallone, encontrei num fórum uma ficha elaborada pelos seus participantes( abaixo posto o link!). Mas refere-se ao ROCKY I. VC sabe se eu poderia encontrar a ficha de outros ROCKYs, como o III, o IV e o VI? Gostaria também de adaptar o Exterminador do futuro para gurps. Vc sabe onde posso encontrar as fichas?
    http://forums.sjgames.com/showthread.php?t=145354
    Muito obrigado e um abração, amigo!
    Frank "O Alienígena".

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    1. Opa, seja bem-vindo. Legal encontrar um entusiasta de Gurps por aqui. Vou tentar responder suas questões de forma mais honesta possível (tendo em vista que não sou nenhum expert):

      1) Eu tenho a 4a edição de Gurps, mas li e joguei apenas um vez, posso dizer que ela é bem compatível com os suplementos das outras edições. Na 4a, deixaram dois atributos um pouco mais caros, com o objetivo de equilibrar a compra de pontos, por exemplo. Não acho essencial passar da 3a para a 4a. Os jogadores que forem com altas expectativas de mudanças, podem se arrepender. Gosto de enxergar como uma atualização da identidade visual e uma leve revisão nas regras.
      2)Tirando pequenos detalhes, os suplementos são bem compatíveis entre as edições. na verdade, os suplementos de GURPS são tão ricos de ideias e cenários, que podem ser usados até em outros sistemas!
      3) Essa confusão se faz por estar escrito "2a edição" na versão da Devir. A 1a edição da Devir (cabeça roxa) é a 3a edição americana, já a 2a edição da Devir (capa preta) corresponde à 3a edição americana REVISADA (só que sem a identidade visual e acabamento luxuoso que tinha a original). Logo, no Brasil, não tivemos a 1a edição americana, nem a 2a edição americana nem a 3a edição americana com a identidade visual original, a nossa, pra variar, ficou um "monstro de Frankenstein". Consegui explicar?
      4) Apesar da Devir não ter dito "oficialmente", os fãs do sistema descobriram através das redes sociais que a Devir não tem mais interesse no GURPS no Brasil. Eles estarão vendendo até zerar o estoque. Depois disso, viram livros raros. Por fim, teremos que ir atrás dos suplementos em inglês mesmo.
      5) Infelizmente não poderei te ajudar com as fichas. Também amo adaptações, mas por falta de tempo, acabei deixando de lado. Para adaptar o cenário de Terminator, recomendo o suplemento GURPS Reign of Steel que já traz um cenário idêntico (I.A.s dominando o mundo, os países passam a ser chamadas de ZONAS, cada uma controlada por uma inteligência artificial, guerrilheiros, armas futuristas, etc).

      Grande abraço e obrigado por ter lido e comentado aqui.

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