domingo, 8 de janeiro de 2017

Uma vara de 3 metros!

     A relação do personagem com o seu equipamento, também faz parte da experiência de jogo. Um Mestre que anseia por uma proposta old school, vai deixar bem claro que o bom gerenciamento de recursos aumentará as chances de sobrevivência do grupo. Além disso, por incrível que pareça, a tabela de equipamentos está lá também, para contar histórias.
    É no mínimo interessante que com o passar das edições, a lista de itens variados disponíveis para o jogador se tornaram mais enxutas e objetivas. E isso não é uma coisa boa. Na minha resenha sobre o Ad&d aqui no blog, menciono que uma das coisas que mais me fascinaram quando abri o Livro do Jogador (depois das ilustrações, confesso), foi a página dupla de equipamentos: animais, embarcações, roupas para várias ocasiões, perfumes, tendas, tintas, lonas, sal, até uma clepsidra de 1000 peças de ouro! Minha parte favorita montando o personagem era customizar inteiramente sua carga. Como Mestre, deixava clara a diferença entre uma corda de cânhamo e uma de seda. A diferença entre um cavalo de tração e um de guerra. É impagável a reação do jogador quando sua montaria de carga debanda em pânico ao escutar golpes de espada e ao sentir cheiro de sangue na primeira batalha do grupo.
    O titulo desse post, menciona uma dos itens mais curiosos das antigas versões do Dungeons & Dragons: a famigerada 10 feet Pole. Essa haste está presente nas caixas antigas, no Rules Cyclopedia, no Ad&d 1st edition, no Dungeon Crawl Classics e até foi resgatado pelo nosso Old Dragon. Muitos jogadores olhavam intrigados para aquele item: -“Pra que serve isso, Mestre?”- indagavam. Um Mestre prestativo dava algumas dicas. Outros deixavam para soluções criativas dentro da aventura. No final, a vara de 3 metros, era justamente isso: uma ferramenta criativa, usada às vezes para tatear seu caminho pela masmorra, para acionar uma armadilha à distância, para alcançar alguma coisa alta, para impulsionar um salto, para bater em alguém, para descobrir a profundidade de uma poça, as possibilidades são infinitas!
A tabela de equipamentos do Ad&d é a mais completa que já vi!
    Até hoje meus amigos lembram com risadas genuínas, de um menino que montando o
O ganso old school!
personagem em Ad&d 2ª edição, ficou com 5 peças de cobre sobrando e me disse: “vou procurar algo na lista pra gastar essas moedas.” Ele vagou por aquelas páginas até surgir um brilho em seu olhar: “um ganso! Custa exatamente 5 peças de cobre, vou ficar com ele.”  O restante do grupo zoou o menino durante horas até que na masmorra, o ganso era lançado nos buracos para descobrir a profundidade, alertava sobre perigos se aproximando, acionava armadilhas (as flechas envenenadas passavam muito acima do bicho!). Resumo da história: o ganso se tornou mascote do grupo e imortalizou aquelas sessões. Um simples item de 5 peças de cobre! Não foi por ser um item mágico, algo raro ou uma arma que causava muito dano: apenas um item bem usado.
    Por isso, reflita sobre como você lida com o equipamento em seu jogo. Já vi mesas por aí que desperdiçam momentos assim com listas prontas de itens: “Kit do Aventureiro” ou “Pacote B de equipamentos”. E lembre-se sempre: as coisas quebram durante uma queda, as coisas se desgastam com o uso freqüente. No mais, recompense o uso criativo dos itens, seja com um simples “parabéns pela idéia” ou com um bônus de experiência no final da sessão. Independentemente da edição que jogar.


Bons jogos a todos!

14 comentários:

  1. Melhor post! Eu sempre achei a lista da 5e muito enxuta, porém o que eu posso fazer né?
    Vou deixar para a criatividade dos meus jogadores essa tarefa :3

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    1. Valeu cara. Na verdade, é uma boa pegar essa lista do Ad&d como opções de compra para seus jogadores de 5a edição. Não terá conflitos em questão de regras.

      Abraço e obrigado por comentar.

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  2. Joguei com um cara que o gnomo dele tinha uma vara de 3m pra medir as salas de Undermountain! O mestre tomou raiva dele.. Kkkkk

    Eu certa vez coletei os chifres de um minotauro que o grupo havia derrotado. Depois moi os chifres e andava com eles numa pequena sacola.

    Enfrentando um NPC poderoso, grupo apanhando feio, eu falei "eu saco minha sacola e jogo pó de chifre de minotauro no rosto dele!" O mestre rolou um save e falhou, o NPC ficou cego por uma rodada, que deu tempo de nós reagruparmos pra continuar a luta.

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  3. Confesso que já tive um problema parecido. O mago comprou todo um estoque de bolsa de cola de uma cidade e usava o item em TODO combate. kkkkk...realmente o uso exagerado dos itens é bem irritante.
    Tem que achar um meio termo... Obrigado por ler e comentar.

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  4. Um amigo meu, numa aventura de 3.5 com espírito Old Schoo que eu fiz, comprou um porco só de zoeira no começo da sessão. Foi a mesma coisa que o ganso, achou todas as armadilhas no caminho e salvou o grupo diversas vezes. Quando morreu, não foi comido, mas sim enterrado com respeito. Um momento edificante.

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    1. Kkkkk, justo. Edificante é uma boa palavra pra ilustrar uma experiência dessas. Abraço.

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  5. Sempre fui fã de tabelas de equipamento, a escolha personalizada ainda ajuda a montar a historia do personagem, porque ele tem tal item? Onde arrumou... Apesar de muitos dos meus jogadores quererem "kits de aventureiro" Sempre insisti pra que montassem suas listas personalizadas. Na minha ultima aventura o grupo passou horas na cidade adquirindo novos equipamentos para retornar a uma dungeon extremamente difícil, foi muito bom ver a preocupação deles em conseguir itens úteis pra vencer os obstáculos q já tinham encontrado e que poderiam encontrar.

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    1. Belo relato. É de fato, gratificante para o Mestre, ver os obstáculos propostos sendo superados com criatividade e trabalho em equipe. Sempre encorajo na minha mesa, uma lista de equipamentos detalhada e personalizada. Obrigado por ler e participar da discussão Edson.
      Abraço!

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  6. Essas listas de equipamentos sempre dão o que falar. Uma vez, passei pros meus jogadores essa mesma lista pra se prepararem para uma viagem em alto mar. Todo mundo fazendo contas, vendo o que dava pra levar e o que cabia no orçamento...

    Um dos jogadores queria comprar noz moscada. A discussão que se seguiu não dava mais pra saber se era dentro ou fora do jogo, com um dos jogadores riscando a noz moscada da lista de compras e escrevendo "barris de água potável" no lugar.

    Eles ainda eram amigos dentro e fora do jogo no final da sessão, mas a noz moscada ficou imortalizada, sendo lembrada em toda lista de compras que fazíamos, até pra churrasco.

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    1. Essas histórias que transcendem sistema de jogo são impagáveis. De fato, o maior objetivo do nosso hobby. Obrigado por compartilhar. Abraço!

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  7. Também sempre vi com satisfação a lista de itens possíveis de compra ou até mesmo de serem encontrados, infelizmente o mestre do primeiro grupo que joguei sempre toliu e ridicularizava qualquer tentativa de uso criativo de itens não essenciais. Hoje, em um novo grupo,para minha felicidade, estou tendo pela primeira vez a oportunidade de utilizar a criatividade não só de itens descritos no livro, como também de itens comuns encontrados no cenário, neste novo grupo a criatividade não é só aceita como também incentivada e recompensada.

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    1. Muitos Mestres falham nesse ponto: recompensar jogadores que pensam "fora dá caixa". Belo relato. Abraço!

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