Geralmente, sentamos
para preparar uma nova aventura e refletimos sobre qual será a grande ameaça da
vez. Abrimos o Livro dos Monstros a procura de um perigo à altura do grupo de
personagens, ou aquela criatura específica que vai aterrorizar e inovar a mesa através de suas habilidades especiais inéditas. Bom, já avisando logo: nada de errado
com isso. Mas e se o vilão da próxima campanha for um simples humano?
Mas essa reflexão surgiu ao lembrar de que os melhores vilões na literatura (especulativa inclusive), são
os seres humanos. É incrível ler as sagas do Bernard Cornwell e pensar "Nossa, como o ser humano é escroto!". Sabemos que é um recurso de defesa do ego e da psiquê, criar e
estabelecer uma quimera fantástica para ser o avatar do que temos de mais podre
em nossa alma. Dragões (como alegoria de avareza), demônios (para alegoria de crueldade), zumbis (como alegoria de corrupção da vida), vampiros (como reflexo
torpe dos prazeres da carne), entre outros.
Acontece que autores geniais traçam
personalidades tão marcantes que acreditamos que aqueles personagens existem. Como
dizem por aí: “amamos odiar aqueles vilões”, aqueles que colocam obstáculos e dilemas no
caminho dos nossos heróis. Claro que em D&D é perfeitamente possível
realizar isso, mas o Livro dos Monstros pode acabar se tornando uma "muleta" nas
mãos de mestres inexperientes, que usam o livro quase como um cardápio da
semana. Eu mesmo tento tomar extremo cuidado ao desenvolver um humano que se
pareça de fato, um ser humano. Cheio de forças e fraquezas, esperanças e medos, pecados e
virtudes.
Jogos como Pendragon e Yggdrasil são
ótimos pois temos que trabalhar bastante para diferenciar um cavaleiro de
outro, um místico de outro, um lorde de outro, as afetações de um menestrel para outro. Quando temos muitas raças
fantásticas, geralmente colocamos esse trabalho (mesmo sem notar) no escopo do estereótipo
ligado a ela. Aliás, um dos temas mais marcantes de Dragon Age (seja o RPG eletrônico,
os romances e o RPG de mesa) são as tensões raciais e como o domínio humano
sobre elas é terrível e muitas vezes, predatório. Chegando a existir guetos raciais
em algumas cidades! Xenofobia é a paranóia da vez em Dragon Age Origins.
Abaixo, 3 dicas para deixar
seus vilões (humanos) mais interessantes:
Mortalidade: um vilão humano
terá pressa para atingir seus objetivos. Ele não tem centenas de anos para
aguardar o próximo alinhamento dos planetas, está suscetível ao tempo e às
doenças. Na verdade, seria interessante, alguém contratando os
personagens-jogadores para adentrar um local, ao qual secretamente esteja
contaminado por uma praga mágica (ou natural mesmo). O grupo obtém o item, entrega para o
contratante, recebe o pagamento e só depois, descobrem que estão gravemente doentes. Só
esse ponto só já daria inicio à caça por esse vilão odiado.
Dualidade: J. R. R. Tolkien explorou
muito esse ponto em suas obras. Ainda mais ele mesmo tendo servido nas duas
Grandes Guerras e vendo na prática, essa faceta. O ser humano é capaz de realizar feitos terríveis, mas também
louváveis. Um bom vilão pode surgir de um grande herói exemplar, que ajudou os
personagens no passado, mas agora, infelizmente, ele mudou de lado, seja
por orgulho, riquezas, política, etc.
Ambição: o ser humano cujas
prioridades ou bom senso estejam deturpados, pode possuir uma ambição
assustadora e maquiavélica. Capaz tanto de erguer ou derrubar impérios. Fomentar guerra e alastrar destruição
por onde passar. Em nossa história, temos (infelizmente) inúmeros exemplos de quando a ambição humana quase pôs tudo a perder. Mas é nessa hora em que o mundo
mais precisa dos heróis.
De modo algum são os únicos
pontos a serem explorados por vilões humanos, mas geralmente me foco nesses três
pontos. A título de piada, anos atrás, li no 9GAG, uma frase ao qual nunca mais
vou esquecer: “Somos ossadas, possuídas por espíritos, cobertos de carne”- OK, assustador
o bastante.
Abraço a todos e bons jogos!
Novamente, um ótimo texto. Parabéns!
ResponderExcluirObrigado Álvaro. Grande abraço.
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