Acabei de ler o Espadas Afiadas & Feitiços
Sinistros recentemente e fiquei ansioso para apresentá-lo ao meu grupo de jogo.
Simplesmente você fica chocado com a quantidade e qualidade de informação inclusa
em suas 64 páginas, tornando-se no final das contas, uma mistura de RPG completo com uma caixa de ferramentas para o Mestre. Por fim, formulei 10 perguntas que tinha em mente para seu
autor: Diogo Nogueira, do blog Pontos de Experiência. Decidi fazer as 10
perguntas abertamente, como um post. Confira:
1)Quais foram as principais influências do Espadas
Afiadas & Feitiços Sinistros?
Influências em
que sentido? A literatura que inspira a ficção do jogo? Filmes? Quadrinhos?
Outros jogos? Bem, no final do livro tem o Apêndice I, que trata justamente
dessas influências, mas posso fazer uma apanhadão geral aqui. Em termos de
literatura, as histórias do Conan de Robert E. Howard, de Fafhrd e Grey Mouser
de Fritz Leiber, os contos estranhos de Clark Ashton Smith e série de Le
Sprange que começa com Goblin Tower foram as histórias que mais alimentaram
minha imaginação. Em termos de quadrinhos, tudo que eu consegui ler do Conan
ajudou um pouco, assim como a série de Lankhmar ilustrada pelo Mignola, que é
fantástica e linda demais. Em termos de filmes, aqueles de fantasia tosca dos
anos 80 são muito legais, os filmes do Conan mesmo, Fire and Ice, Kull. Já em
termos de RPG, eu fui influenciado por muitas coisas. O EA&FS é uma
compilação de coisas que eu gosto de vários jogos, modificadas e adaptadas pra
a temática de espada e feitiçaria e de forma a se encaixar umas nas outras. Mas,
para constar, alguns dos jogos que me inspiraram são: Original Dungeons &
Dragons, Advanded Dungeons & Dragons 1st Edition, D&D B/X, Beyond the
Wall, Wonder & Wickdeness, DCC RPG, Fiasco, The Black Hack, White Hack,
Edge of the Empire, Call of Cthulhu, Lamentations of the Flame Princess, Maze
Rats, e até FATE.
2)Ainda sobre o EA&FS, muitos podem não entender a
ausência da classe Clérigo no core do
jogo. Pode explicar essa decisão?
Pois é. Acho que
o gênero de espada e feitiçaria não é muito disseminado por aqui, e muita gente
tende a achar que é simplesmente como a fantasia de gênero disseminada pelo
D&D, que tem seu expoente na Terra-Média de Tolkien. Mas, na verdade, não é.
É uma fantasia mais crua, mais cruel, mas suja. A magia não é algo que pode ser
usada pelo bem e pelo mal, mas é uma força corruptora, usada com muita
parcimônia e que, invariavelmente, corrompe quem a usa. Eu gosto de pensar que
é como o nosso mundo real. Deuses não existem (sim, eu sou ateu, não tem como
não ser com tanta coisa ruim pelo mundo). Pelo menos não Deuses benevolentes.
Assim, sacerdotes e religiões não são “mágicos” mas apenas partes de uma
organização de crenças e outros interesses. Se um sacerdote tem poderes
mágicos, é porque ele tem ligações com forças caóticas e não é lá nenhum
“santinho”. Assim, não há clérigos na imensa maioria das histórias que tem
ligação com o gênero de espada e feitiçaria. Essa literatura tem seus expoentes
nas crônicas de Conan do Robert E. Howard, nas Crônicas de Lankhmar de Fritz
Leiber, as histórias de Elric de Michael Moorcock e outros. É um mundo cruel,
como o nosso.
3)Devido o sucesso do EA&FS, o projeto Bruxos
& Bárbaros foi “deixado de lado” por tempo indeterminado?
Eu gosto de
pensar que não. O EA&FS é uma consequência natural do Bruxos &
Bárbaros. Ele não existiria sem o B&B. Muitas coisas são comuns aos dois,
tanto em regras como em cenário. Acontece que meus objetivos e estilo de jogo
foi tendendo para algo mais improvisado, com regras mais sólidas mas menos
detalhadas, daí o EA&FS. O cenário do B&B, Anttelius, vai ser publicado
para o EA&FS e de um jeito bem mais interessante, interativo, feito para se
usar na mesa de jogo pelo mestre para criar aventuras na hora. O B&B está
vivo, graças ao EA&FS.
4)Antellius, seu cenário de campanha pessoal, vai sair
oficialmente para EA&FS? Se sim, como anda o projeto?
Vai sim. Ele não
anda muito porque ele não tem pernas. Mas piadas a parte, eu estou escrevendo
ele aos poucos. Tenho coisas do financiamento ainda para terminar (aventuras,
diagramar o Addendum em português), estou trabalhando no Solar Blades &
Cosmic Spells (um jogo de espada e feitiçaria nas estrelas) e faço algumas
cosias para outras pessoas e jogos. Estou equilibrando muitos pratos ao mesmo
tempo, mas sempre anoto coisas para Anttelius. Ele vai sair. Mas vai demorar um
pouco ainda. Quero algo bem legal para ajudar mestres a criar aventuras
sozinhos e ser um livro que ajude o mestre na hora do jogo, e não só uma lista
de nomes e lugares a serem decorados.
5)Os módulos de aventura da Goodman Games fazem enorme
sucesso. Há planos de lançar módulos semelhantes para o EA&FS?
Bem, o
financiamento prevê uma série de pequenas aventuras. Não serão módulos como de
DCC, mas alguns locais e esquemas de situações para serem facilmente utilizadas
e que rendam uma sessão ou duas de jogo. Módulos completos como de DCC é um
pouco mais complicado, exige tempo e exige outros autores além de mim. Acho que
deve até sair um ou outro, mas não vai ser meu foco. Quero produzir coisas que
ajudem os outros a criar suas próprias aventuras e a improvisar coisas na hora.
6)Qual seu cenário de campanha oficial predileto dos
tempos áureos da TSR e por que?
Dark Sun. Porque
é diferente. Foge da fantasia de gênero que já estamos acostumados. É cruel. Os
personagens não precisam ser “heróis”. É uma parada mais crua, suja, rock’ n
roll, e realista (não existem Deuses em Dark Sun também)!
7)Ainda sobre os settings
da TSR, qual o cenário que você acha mais “baunilha” e por que?
Forgotten
Realms. É um cenário que tenta ser tudo e, no final, não é nada. Não tem gosto.
Não tem cara. Tem muitos NPCs fodas que fazem você pensar que seu personagem só
está ali de enfeite. E a única vez que tentaram fazer algo criativo com o
cenário os fãs piraram (na quarta edição de D&D). Mas é aquilo. As pessoas
se sentem confortáveis com o que já conhecem. Eu quero algo novo, diferente,
que me cause surpresa. Forgotten Realms não é para mim.
8)No meio de tantas opções que a OSR nos trouxe (Lamentations
of the Flame Princess, Dungeon Crawl Classics, Basic Fantasy, Espadas Afiadas
& Feitiços Sinistros), o que leva em consideração quando vai decidir o que
jogar com o seu grupo ou levar para um evento?
Acho que o clima
do jogo e o que ele traz de diferente. DCC ele traz uma fantasia pulp em um
clima de aventura muito legal. Ele é empolgante, animado, caótico, mortal,
divertido. Ele foge da fantasia de gênero, o que me agrada muito. EA&FS é
um jogo rápido, flexível, feito para jogar improvisando, tem um clima de espada
e feitiçaria bem forte e que, para mim, funciona muito bem com a literatura de
ação que inspira o jogo. Lamentations tem um sistema clássico e mortal mas que
se encaixa perfeitamente com as aventuras bizarras e cruéis que ele promove.
The One Ring, não é OSR mas eu amo. Ele é PERFEITO para se jogar na Terra-Média
de Tolkien. Ele reflete tudo que é importante nas histórias e tem regras leves
para lidar com isso. Eu busco jogos que reforcem o clima da ficção da qual se
inspiram e que tenham regras fáceis de usar e ágeis, mas que também tenham uma
certa abertura e flexibilização para que o mestre transforme o jogo em certos
pontos.
9)O blog “Pontos de Experiência” está ativo desde
2011, repleto de dicas e informações para o hobby. Há planos de compilar os melhores posts e
lançar um livro?
Sim. Mas há
planos para muitas coisas. Eu tenho muitos projetos. O problema é conseguir
termina-los! Já consegui com o EA&FS, Caveira Velha e com o Addendum. Vamos
ver o que mais eu consigo!
10)Última pergunta: eu serei amaldiçoado pelos deuses
do Caos se jogar EA&FS em Toril?
Sim, por 77 gerações. Está
avisado!
Brincadeira... (Ou não!).
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Atenção: Não tentem fazer isso em casa. |
Desde já, deixo meus agradecimentos ao autor pelo tempo e bom-humor.
Acessem esse link e comprem o Espadas Afiadas & Feitiços Sinistros, lançado
recentemente pela editora Pensamento Coletivo. Garanto que terão em suas mãos, um jogo simples,
rico e inspirador!
Abraço a todos!