quinta-feira, 21 de março de 2019

O Mestre refém do D&D



Você como Mestre, gasta dinheiro comprando novos jogos, gasta tempo preparando as aventuras e pesquisando sobre os novos lançamentos. Você olha para a estante e ela está repleta de livros de RPG. Alguns, lacrados até hoje! Como você queria botar aqueles livros na mesa! Como queria experimentar aquelas mecânicas e aquele cenário que tinha achado tão interessantes quando saiu. Próximo domingo tem RPG, mas você sabe o que vai acontecer: seu grupo vai pedir para jogar D&D novamente...

Essa é uma situação mais comum do que imagina. Eu já passei por ela. Você pode estar passando por ele nesse momento, ou compartilhar da lembrança de situação semelhante. Claro, que não é especificamente o D&D. É perfeitamente possível ficar refém de qualquer sistema. Só peguei o D&D como exemplo, por ele ser referência. Não é à toa: Dungeons & Dragons é o RPG mais famoso do mundo. Desde o seu nascimento, D&D é sinônimo no nosso hobby. Amplamente usado como metonímia, para explicar o que você joga com seus amigos no final de semana. Ainda mais com o total sucesso que está sendo a 5a edição. E não se engane, ela é ótima mesmo!  Pegando nosso exemplo de estudo, por que muitos grupos de jogo se prendem tão fielmente ao D&D? Acredito que por dois motivos, o principal, é a segurança: os tropes trabalhados em D&D são familiares e compõem um campo seguro para trabalhar. Nossa cultura pop atual, está infestada de elfos, anões, dragões, goblins, orcs e até hobbits, graças às adaptações de Peter Jackson para o cinema. Lembro que nos anos 90, a gente usava Caverna do Dragão para apresentar o Dungeons & Dragons, hoje há milhares de outros exemplos a serem usados (apesar do desenho oficial ainda ser lembrado). Em segundo lugar, é o “assunto em alta”, criando assim um ciclo que se retroalimenta: “há mais gente falando de D&D porque ele é o mais jogado?” ou “ele é mais jogado porque tem mais gente falando sobre ele?” No final das contas, dá na mesma, apesar de serem processos distintos.

Logo, sobre o que é esse post? Definitivamente, não é para você parar de jogar D&D! Eu coleciono, jogo e gosto de todas as edições, como podem ver aqui no blog. Eu simplesmente amo Dungeons & Dragons! Não tem como negar que ele é a referência e termômetro do mercado. A ideia do post de hoje, é apresentar 5 pontos que você pode refletir e ponderar quando pensar num novo jogo para a sua mesa, visando experimentações e novos horizontes. Antes de abandonar seu grupo, pense em usar uma das ideias abaixo:

1 – Vendendo a proposta

Você acabou de comprar Buffy RPG porque você ama a série, certo? Só que seus jogadores NUNCA assistiram a série. Como são muitas temporadas, pense em separar alguns episódios e passar para o pendrive deles. Uns 10 episódios que ilustram bem o tom do programa e que é esse o tom que deve ser emulado na sua campanha. Quer tirar seus livros de Warhammer 40k da prateleira? Quem sabe, uma “sessão zero” apenas para explicar todo o rico universo do jogo? Explicar sobre a Inquisição, o Warp, os ultramarines, a Heresia de Hórus, os Tyrannids e os Eldar, toma bastante tempo, mas por fim, pode deixar a galera bastante inspirada. Nem sou muito fã de sessão zero para D&D, mas confesso que pode ser bem útil para apresentar um jogo ao qual as mecânicas e cenário são inteiramente novos ou exóticos.

2 – Referências visuais

Hoje em dia, com tanta tecnologia, não tem desculpa para descrever alguma coisa dada como exótica e não mostrar, pelo menos, uma referencia. Pode imprimir ou mostrar na tela do notebook. Às vezes, o grupo não se empolga com um jogo, por faltar de apelo visual. E confesso, tem livros por aí que possuem artes sofríveis. Em contrapartida, há livros no mercado que basta folhear que já te deixam no clima. Você sabe exatamente sobre o que é aquele jogo! Monte, por exemplo, uma pasta compartilhada no Google Drive com as artes que você acha perfeitas para o jogo/proposta desejada e passe para eles! Já vi também gente fazendo um mini-trailer e upando no Youtube!  

3 – Ovelha Negra

Lembro de uma campanha que queria iniciar de Vampiro: A Máscara. Tinha jogadores nesse grupo que simplesmente amavam a ambientação de Vampiro: A Máscara e se empolgaram de imediato. Um deles, simplesmente detestava. Em caso parecido, converse com ele e explique que pode fazer um vampiro “fora da caixa” montando um Caitiff talvez, longe das conspirações da Camarilla, do Sabá e dos estereótipos pré-concebidos dos clãs. Explique que ele pode dar seu toque especial para esse vampiro e até algumas coisas inexplicáveis mesmo, como não ter presas ou ser acompanhado de um fantasma, por exemplo. Dê uma olhada na lista de Qualidades e Defeitos junto dele, e a inspiração pode vir rapidamente. Quando perceber, ele provavelmente terá gostado do personagem e você terá algo interessante para trabalhar.

4 – Carta na manga: One-Shot

One-shots são perfeitas para experimentações! Mas nesse caso, leve personagens prontos. O segredo aqui é sentar e jogar. Explique que é uma pequena pausa, e que hoje, conhecerão um jogo novo. Eles podem torcer o nariz, mas se estiver realmente empolgado, há chance de contagiar o grupo e a one-shot virar uma campanha futuramente. Lembro de um jogador que amava o gênero “cyberpunk” e detestava o amálgama de magia e tecnologia de Shadowrun. Um dia, ele deu uma chance e experimentou uma one-shot comigo. Ainda hoje se lembra do seu personagem e volta e meia pede para revisitar aquele mundo.

5 – D&D “fora da curva”

Num pior cenário, se tudo de errado, e o grupo assim que terminar uma campanha de D&D, quiser OUTRA campanha de D&D, pense em como deixar essa nova campanha com novo fôlego ou estilo. Dungeons & Dragons possui muitos cenários diferentes. Principalmente na 2a edição (minha predileta). Hoje é possível comprar esse material digital e adaptar para a versão mais recente do jogo. Materiais de Planescape, Spelljammer e Dark Sun, só para citar alguns, pode apresentar a você e ao seu grupo, toda uma nova visão do RPG mais famoso do mundo, com releitura de velhos clichês e apresentação de novas possibilidades. Há um tempo, venho mestrando uma campanha de AD&D só com anões. Um simples ajuste desses pode dar uma fachada completamente nova e sair da zona de conforto.

E vocês? Já foram reféns de algum jogo ou sistema? Abraço a todos e bons jogos!


6 comentários:

  1. Muito pertinente o texto, já passei por isso, a galera com quem eu jogo melhorou no sentido de experimentar coisas novas.

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    1. Sim, estamos vivendo uma época com inúmeras opções! Grande abraço.

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  2. Comecei a ler e pensei na quantidade de jogos na minha estante que NUNCA usei. Bateu foi uma deprê... Sou um "lamentável", como diz a turma do podcast Melhores do Mundo, hehehe! XD

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  3. Cara, achei o texto maravilhoso, parabéns!

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