domingo, 1 de setembro de 2019

Resenha: Veins of the Earth



Primeiramente, gostaria de informar que o blog ainda está ativo. O hiato do mês passado explica-se por algumas mudanças boas na minha vida (me mudei de cidade, inclusive), ou seja, demandaram 100% do meu tempo. Entretanto, aos poucos, estou me organizando para voltar a jogar RPG e escrever sobre o meu hobby preferido.

No post de hoje, trago mais um incrível tomo da linha Lamentations of the Flame Princess (já resenhei outros livros desse selo aqui no blog). Veins of the Earth foi escrito por Patrick Stuart e lançado em 2017 e fez bastante sucesso dentro de seu nicho. Mas por quais motivos? Gosto de pontuar três principais aspectos: apresentar um bestiário inovador, pincelar um cenário único e assustador e funcionar como uma caixa de ferramentas. A saber:

Bestiário Inovador


Numa primeira folheada, você achará que o livro é simplesmente um compendio de novos e estranhos monstros. E de fato, o bestiário consome 154 páginas de um total de 365 páginas. Mas a forma que os seres que habitam esse estranho e escuro mundo são apresentados fazem dos Veins um dos melhores “livros dos monstros” do mercado atual. O autor entrega não só estatísticas (que são focadas no Lamentations, mas que podem ser usadas sem dificuldades, em qualquer D&D-like), mas também entrega COMO essas criaturas devem ser apresentadas. Cheiros, sons, ou seja, qualquer experiencia sensorial que possa “alertar” criaturas que já habitam aquele ecossistema, como claro, surpreender seus jogadores. Por exemplo, como um grupo deve reagir quando começar a sentir um cheiro próximo a “plástico queimando” ou escutar o som de “água corrente” vindo de uma reentrância na pedra, apenas para descobrir que o som é mimetizado por um monstro, visando atrair presas incautas? Veins fornece artifícios nesse estilo. É impossível também falar das criaturas aqui apresentadas, sem mencionar a arte da Scrap Princess, que já digo de imediato: não é para todos. Obviamente, o abstrato foi o foco. As criaturas são borrões, silhuetas e rasuras do que pôde ser observado sem a devida iluminação. Algo que algum sobrevivente desse mundo subterrâneo tentou explicar para outras pessoas, sob a luz fraca de uma fogueira. Talvez os PCs encontrem um desenho de um bardo sobrevivente que perdeu a sanidade e essas ilustrações podem servir muito bem como prop/handout para os seus jogadores. Quer inspiração? Basta escolher um dos monstros e ler sua entrada atentamente.


Caixa de Ferramentas

O grande mérito do livro, acredito, é fazer tanto o Mestre quanto os jogadores repensarem conceitos como escuridão, luz, penumbra e até mesmo sobre as próprias cavernas. Por conveniência e agilidade, quando pensamos numa aventura em uma caverna, todas as seções geológicas são pensadas em escalas humanas, os aventureiros entram na caverna, atravessam um corredor natural de pedra nua e continuam a avançar até o aposento final (onde provavelmente encontrarão o boss final). Para a iluminação, basta alguém estar com uma tocha na frente e pronto: tudo resolvido. Veins of the Earth visa um realismo quase doentio para esse ambiente, explicando que as cavernas surgem com a penetração da água e que obviamente, não considera se um ser humano consegue ou não, passar por ali. Toda a luz terá que ser pensada, muitas vezes confiar no tato ou num aroma específico. Logo, muitas ferramentas são oferecidas para que essa experiencia de exploração seja de fato, alienígena. Você terá que ser cauteloso para vagar por esse mundo, ser inventivo com as ferramentas disponíveis e sábio na gestão de recursos (principalmente luz). Vagar sem luz, é loucura: suicídio, pois toda a topografia e ecossistema já está habituado e adaptado à escuridão: menos você. Um TPK (total party kill) é mais provável de acontecer porque o grupo NUNCA MAIS encontrou o caminho de volta para a superfície, do que ocorrer simplesmente porque encontrou uma criatura extremamente poderosa, apesar dos predadores à espreita. Como Mestre, prepare-se para elaborar (de maneira randômica, diga-se), grutas de diversos tamanhos, algumas que os personagens nem poderão adentrar), seja pelo tamanho ou por acesso mesmo. Por exemplo: há locais na natureza, que apenas uma cobra, uma aranha ou uma ave tem acesso. Tentar acessar esses locais, pode ser até ser possível, mas você terá que arriscar sua vida para tal. Por fim, há ferramentas e tabelas para gerar sistemas inteiros de cavernas, encontros e perigos naturais (fome, hipotermia, insanidade, entre outras coisas legais).

Cenário único e assustador

Bom, isso me parece certo...
Mas então? Onde ficam os Veins of the Earth? Ora, onde você quiser! Se você joga por anos em seu cenário próprio, faça seus jogadores entrarem numa caverna para se abrigarem de algum perigo (natural ou não) e por fim, descobrirem uma passagem no fundo da caverna. Quando menos esperarem, estarão penetrando na escuridão quase tangível desse novo e bizarro mundo. Vocês jogam em Forgotten Realms? Sem problemas! Que tal usar Veins of the Earth e repensar todo o Undermoutain abaixo de Waterdeep? O contraste da civilização e refúgio acima, com o desconhecido e estranho abaixo, é em geral, um tema de sucesso para sua campanha. Como mencionei acima, as ferramentas trazidas são verdadeiros escoadouros de recursos do grupo: itens, água, comida, luz e até mesmo a sanidade. Logo, esteja avisado que o tom do seu jogo, será esse a partir de agora. Assim sendo, o momento em que seu grupo descobre que luz é um recurso muito mais valioso que os sacos pesados de moedas que carrega, é impagável!

Últimas considerações

Veins of the Earth é uma obra-prima, que vale a pena ter na coleção. Mesmo que você não tenha curtido a arte ou o tom sombrio do material, pode usar as suas ferramentas e tabelas para gerar redes de cavernas de maneira mais orgânica e caótica, sem parecer um set de filmagem higienizado. Ao adentrar nas cavernas mais profundas do seu mundo de campanha, independente da edição de D&D que jogue, coloque o Livro dos Monstros discretamente de lado, e puxe o Veins of The Earth. Você não se arrependerá!

OBS: o podcast Café com Dungeon fez um ótimo episódio sobre o livro. CONFIRA AQUI!
Abraço a todos e bons jogos! 
             


4 comentários:

  1. Olá Ranieri, achei que você tinha abandonado mesmo por aqui. Mas bom ler novamente um ótimo artigo por aqui!Abraço

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  2. Opa. Tentarei voltar ao ritmo quinzenal. Abraço e obrigado por acompanhar.

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  3. Temos que ter uma aventura nesse mundo em Ranieri.
    Ansioso para jogar 😁

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