Primeiramente, gostaria de informar que o blog
ainda está ativo. O hiato do mês passado explica-se por algumas mudanças boas
na minha vida (me mudei de cidade, inclusive), ou seja, demandaram 100% do meu
tempo. Entretanto, aos poucos, estou me organizando para voltar a jogar RPG e
escrever sobre o meu hobby preferido.
No post de hoje, trago mais um incrível tomo da
linha Lamentations of the Flame Princess (já resenhei outros livros desse selo
aqui no blog). Veins of the Earth foi escrito por Patrick Stuart e
lançado em 2017 e fez bastante sucesso dentro de seu nicho. Mas por quais
motivos? Gosto de pontuar três principais aspectos: apresentar um bestiário
inovador, pincelar um cenário único e assustador e funcionar como uma caixa de
ferramentas. A saber:
Bestiário Inovador
Numa primeira folheada, você achará que o livro
é simplesmente um compendio de novos e estranhos monstros. E de fato, o
bestiário consome 154 páginas de um total de 365 páginas. Mas a forma que os
seres que habitam esse estranho e escuro mundo são apresentados fazem dos Veins
um dos melhores “livros dos monstros” do mercado atual. O autor entrega não só
estatísticas (que são focadas no Lamentations, mas que podem ser usadas sem
dificuldades, em qualquer D&D-like), mas também entrega COMO essas
criaturas devem ser apresentadas. Cheiros, sons, ou seja, qualquer experiencia
sensorial que possa “alertar” criaturas que já habitam aquele ecossistema, como
claro, surpreender seus jogadores. Por exemplo, como um grupo deve reagir quando
começar a sentir um cheiro próximo a “plástico queimando” ou escutar o som de
“água corrente” vindo de uma reentrância na pedra, apenas para descobrir que o
som é mimetizado por um monstro, visando atrair presas incautas? Veins fornece
artifícios nesse estilo. É impossível também falar das criaturas aqui
apresentadas, sem mencionar a arte da Scrap Princess, que já digo de imediato:
não é para todos. Obviamente, o abstrato foi o foco. As criaturas são borrões,
silhuetas e rasuras do que pôde ser observado sem a devida iluminação. Algo que
algum sobrevivente desse mundo subterrâneo tentou explicar para outras pessoas,
sob a luz fraca de uma fogueira. Talvez os PCs encontrem um desenho de um bardo
sobrevivente que perdeu a sanidade e essas ilustrações podem servir muito bem
como prop/handout para os seus jogadores. Quer inspiração? Basta escolher um
dos monstros e ler sua entrada atentamente.
Caixa de Ferramentas
O grande mérito do livro, acredito, é fazer
tanto o Mestre quanto os jogadores repensarem conceitos como escuridão, luz,
penumbra e até mesmo sobre as próprias cavernas. Por conveniência e agilidade,
quando pensamos numa aventura em uma caverna, todas as seções geológicas são
pensadas em escalas humanas, os aventureiros entram na caverna, atravessam um
corredor natural de pedra nua e continuam a avançar até o aposento final (onde
provavelmente encontrarão o boss final). Para a iluminação, basta alguém estar
com uma tocha na frente e pronto: tudo resolvido. Veins of the Earth visa um realismo
quase doentio para esse ambiente, explicando que as cavernas surgem com a
penetração da água e que obviamente, não considera se um ser humano consegue ou
não, passar por ali. Toda a luz terá que ser pensada, muitas vezes confiar no
tato ou num aroma específico. Logo, muitas ferramentas são oferecidas para que
essa experiencia de exploração seja de fato, alienígena. Você terá que ser
cauteloso para vagar por esse mundo, ser inventivo com as ferramentas
disponíveis e sábio na gestão de recursos (principalmente luz). Vagar sem luz,
é loucura: suicídio, pois toda a topografia e ecossistema já está habituado e
adaptado à escuridão: menos você. Um TPK (total party kill) é mais
provável de acontecer porque o grupo NUNCA MAIS encontrou o caminho de volta para
a superfície, do que ocorrer simplesmente porque encontrou uma criatura
extremamente poderosa, apesar dos predadores à espreita. Como Mestre,
prepare-se para elaborar (de maneira randômica, diga-se), grutas de diversos
tamanhos, algumas que os personagens nem poderão adentrar), seja pelo tamanho
ou por acesso mesmo. Por exemplo: há locais na natureza, que apenas uma cobra,
uma aranha ou uma ave tem acesso. Tentar acessar esses locais, pode ser até ser
possível, mas você terá que arriscar sua vida para tal. Por fim, há ferramentas
e tabelas para gerar sistemas inteiros de cavernas, encontros e perigos
naturais (fome, hipotermia, insanidade, entre outras coisas legais).
Cenário único e assustador
Bom, isso me parece certo... |
Mas então? Onde ficam os Veins of the Earth?
Ora, onde você quiser! Se você joga por anos em seu cenário próprio, faça seus
jogadores entrarem numa caverna para se abrigarem de algum perigo (natural ou
não) e por fim, descobrirem uma passagem no fundo da caverna. Quando menos
esperarem, estarão penetrando na escuridão quase tangível desse novo e bizarro
mundo. Vocês jogam em Forgotten Realms? Sem problemas! Que tal usar Veins of
the Earth e repensar todo o Undermoutain abaixo de Waterdeep? O contraste da
civilização e refúgio acima, com o desconhecido e estranho abaixo, é em geral, um
tema de sucesso para sua campanha. Como mencionei acima, as ferramentas
trazidas são verdadeiros escoadouros de recursos do grupo: itens, água, comida,
luz e até mesmo a sanidade. Logo, esteja avisado que o tom do seu jogo, será
esse a partir de agora. Assim sendo, o momento em que seu grupo descobre que
luz é um recurso muito mais valioso que os sacos pesados de moedas que carrega,
é impagável!
Últimas considerações
Veins of the Earth é uma obra-prima, que
vale a pena ter na coleção. Mesmo que você não tenha curtido a arte ou o tom
sombrio do material, pode usar as suas ferramentas e tabelas para gerar redes
de cavernas de maneira mais orgânica e caótica, sem parecer um set de filmagem
higienizado. Ao adentrar nas cavernas mais profundas do seu mundo de campanha,
independente da edição de D&D que jogue, coloque o Livro dos Monstros
discretamente de lado, e puxe o Veins of The Earth. Você não se
arrependerá!
OBS: o podcast Café com Dungeon fez um ótimo
episódio sobre o livro. CONFIRA AQUI!
Abraço a todos e bons jogos!
Olá Ranieri, achei que você tinha abandonado mesmo por aqui. Mas bom ler novamente um ótimo artigo por aqui!Abraço
ResponderExcluirOpa. Tentarei voltar ao ritmo quinzenal. Abraço e obrigado por acompanhar.
ResponderExcluirTemos que ter uma aventura nesse mundo em Ranieri.
ResponderExcluirAnsioso para jogar 😁
Opa. Ansioso para testar. Grande abraço.
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