A cena da capa, bizarramente, não acontece no livro... |
Mas como o primeiro livro acaba? Com uma batalha épica de magias, entre Elminster, Bane e a maga Midnight. No clímax da mesma, uma brecha é aberta, de onde surge a própria Mystra, materializada dessa vez, como magia bruta, acaba com o ataque de Bane. A saber, lá no meio do livro, ela havia sido destroçada por Helm, ao tentar adentrar a morada dos deuses SEM as Tábuas do Destino. Logo, das cinzas e destroços dessa batalha, o povo de Shadowdale, que deu a vida para proteger sua comunidade do exército zhentarim, encontra apenas Adon e Midnight, sem nem o corpo do mago mais famoso dos Reinos. Eles olham entre si e assumem que Elminster foi morto pela dupla. Simples assim...
Esse segundo volume, inicia-se justamente com os preparos para os julgamentos dos dois personagens. O sábio e adorado Elminster, já estava com residência estabilizada (sua famosa torre no Vale das Sombras), e a sua morte deixou todos sedentos de sangue, querendo justiça a qualquer preço. Entretanto, toda essa sequência inicial de eventos, é um tanto inverossímil na minha opinião, por três importantes fatores:
1 – não é a primeira vez (nem a última), que Elminster desaparece ou aparentemente morre. Todos sabem da escala de poder do velho mago, inclusive, suas viagens por toda Faerun, quiçá pelos Planos!
2 – todos sabem da instabilidade atual da Trama Mágica, onde os usuários de magia, estão passando um perrengue com magias saindo do controle. Logo, como os moradores da dita “pacífica e idílica” terra dos vales não poderiam pensar um pouco, antes desejar friamente que nossos heróis fossem decapitados logo pela manhã?
3 – sob juramento, e perante a todos no tribunal, Lhaeo, ajudante pessoal de Elminster conta sobre sua suspeita que o mago não esteja morto, reforçando os dois tópicos supra citados para todos os presentes, e ainda explicando que se Elminster pediu que ficasse sozinho com eles, é porque confiava neles. Mas mesmo assim ele é ignorado. O “povo idílico” dos vales quer mesmo, ver sangue!
Bom, desse ponto, temos Cyric que estabelece a fuga dos seus aliados. Mas assassinando os guardas no processo, através de muita furtividade, envenenamento e ataque pelas costas, do bom e velhos AD&D. Ele guia seus aliados para além da Terra dos Vales, através do Rio Ashaba, contando uma fraca história de que Kelemvor havia traído eles. Aqui, outra parte que achei inverossímil, pois acredito que Midnight nunca teria deixado Kel para trás, a quem ela desenvolveu um vínculo amoroso ao longo do primeiro livro.
Kelemvor fica para trás, bastante irritado, achando que fora abandonado pelos amigos e assim, o representante do Vale das Sombras, o incube de liderar uma trupe de caçadores para trazer os fugitivos de volta. Novamente, esses caçadores deveriam ser homens bons, que buscam justiça, mas olhando os diálogos, eles só falam de vingança e (pasmem!) a possibilidade de torturar os fugitivos. Bastante idílico e bucólico, certo?
A jornada de Cyric é bastante interessante, pois ele que lutou por muito tempo contra a sua natureza cruel e contra os traumas dissociativos impostos por seu mentor e outros agentes da Guilda dos Ladinos, lança fora agora, o pouco de empatia e humanidade que ainda tinha. Ele aceita que se cansou da vida de sofrimentos, dor e miséria e que almeja algo maior, e matará cada um que se tornar um obstáculo para tal. Aparentemente, ele liga os pontos e percebe que se os avatares caíram aqui em corpos humanos e querem voltar, ele poderia fazer algo parecido, certo? Basta ele ter os Tábuas do Destino e encontrar uma das Escadarias Celestiais (uma delas, ele já até encontrou no primeiro livro, onde Helm guardava o acesso). Muitos acham muita brusca essa mudança de “alinhamento do personagem”. Sinceramente, não achei. Tem toda uma série de eventos, alguns até extremos, onde Cyric deve matar para não morrer, deve enganar para não morrer, trair para não morrer e tal. O personagem vai notando que ele é bom naquilo de fato, e que Marek, seu antigo mentor, não estava tão enganado assim... Já tive uma mesa onde o jogador no meio da campanha mudou de alinhamento devido a uma série de acontecimentos e achei bastante interessante.
Ao longo do livro, os personagens enfrentam desafios pontuais e se deparam com personagens coadjuvantes interessantes. A empatia perdida por Cyric, é resgatada por Adon, que perdera sua fé. A coisa piora quando encontra o templo de Torm repleto de fundamentalistas e clérigos corruptos. Mais ao se deparar com o próprio Torm, Adon vê que ainda há esperança e que nem toda fé é corrupta. Um passo importante para o personagem. No mais, nem o próprio Torm concorda com os tormitas!
O tom de uma cidade sitiada e em tempos de guerra é muito bem estabelecido, agradando a quem gosta de tramas urbanas. Kelemvor por fim é capturado e interrogado por Bane, que oferece de retirar a maldição familiar do guerreiro em troca dele ajudar a prender Midnight e Adon. Num primeiro momento até achei que Bane queria pegar o poder bestial para si, mas nada disso, ele é inocente mesmo, ajuda Kelemvor e o solta, que simplesmente não cumpre sua parte do acordo. Se ainda fosse enganado por Cyric (como também acontece nesse livro!), até compraria, mas o cabeça-quente do Kelemvor? Não mesmo...
ELBOW ROCKET, now! |
Conclusão
Eu gostei bastante desse livro. Bane ainda é um vilão muito caricato, mas não me incomoda tendo crescido com os filmes de fantasia da nossa infância. A hora em que ele tem a “brilhante ideia” de realizar o ritual roubando todas as almas dos assassinos de Faerun é bem bizarra e ela está ali pelo simples motivo de criar uma justificativa canônica de não haver mais a classe Assassino no AD&D 2ª edição. É uma medida que quase soa forçada, mas ainda assim é válida por ser inovadora naquela época: um acontecimento grandioso nos romances, que mudaria as regras da nova edição. Mas é bizarro ver a cena onde qualquer pessoa com a “Classe” de Assassino tem sua alma drenada num instante, de inúmeros pontos do continente. Tipo, Cyric mata muito mais, mas a Classe de Personagem dele é Ladrão, e não Assassino, então não conta. Soa exatamente assim. Mas enfim: agora estou bem curioso para adentrar ao terceiro e último livro da trilogia original dos Avatares. E repito: quem jogou Forgotten Realms na 3ª edição, já sabe o destino de Mystra, Kelemvor e Cyric. Mas quero ver como foi o processo, obviamente.
Curiosidade: depois da morte do avatar de Torm na região, Tantras fica envolta por uma imensa área de magia morta. Muitos que fogem dos Magos Vermelhos ou outros arcanos, utilizar essa cidade como refúgio óbvio. Personagens magos podem ficar bem frustrados tendo que passar uma temporada aqui. No mais, é uma pano de fundo bem interessante para sua campanha.
Abraço a todos, e boa leitura!