domingo, 4 de dezembro de 2016

Nostalgia: Millenia

Esse livro é guerreiro!
Em 1997, Titanic estava nos cinemas e na livraria do shopping center, comprei Millenia, o primeiro RPG de ficção científica brasileiro. Sua ambientação é 2995, mil anos depois de sua data de lançamento, onde a humanidade estabelece colônias em outros setores da Galáxia. Confesso que tive que vencer três obstáculos para poder jogar Millenia.
     O primeiro deles foi por puro preconceito: ser um RPG nacional. No meu post sobre
Tabelas!
Tagmar eu falei que fazia comparações injustas com o Ad&d na época. Com o Millenia, eu fazia analogias (também injustas) com o Cyberpunk 2020. A saber, eu tinha 11 anos de idade! Millenia nem tinha a intenção de debater o gênero cyberpunk e sim, o Space Opera. Meu segundo obstáculo foi com a arte do livro que vão de fracas a muito boas. Até hoje gosto muito das ilustrações dos equipamentos e armas e das artes de abertura dos capítulos. A terceira barreira era um mal de seu tempo: inúmeras tabelas. Acho que me deixavam confuso em relação às regras. Mas verdade seja dita, anos 80 e 90, bastava abrir um RPG em uma página aleatória e encontrar no mínimo uma tabela. Isso acontecia tanto com jogos gringos quanto nacionais. Shadowrun, por exemplo, usava tabela até para a criação de personagens!
     Felizmente, um ano depois, dei uma chance ao Millenia e me diverti demais com meus
Adoro essas ilustrações.
amigos. Aprendi a enxergar as jóias únicas que tornam esse RPG tão especial e elevado ao status de cult. O livro nos entrega um cenário bem sombrio, onde a Humanidade está saindo de uma nova Idade das Trevas, provocada por um longo período de dominação Fentom (uma raça inumana que escravizou e obliterou grande parte de nossa identidade histórica e social). A República, que protege os principais planetas, emula a antiga República Romana liderando o homem com promessas de um futuro de esperança e glórias. Só isso daria margem para grandes aventuras em Millenia, mas ainda há guerras civis, Casas que disputam poder, conflitos entre as outras raças descritas no livro (incluindo regras para usá-las como personagens-jogadores). As forças armadas da República se dividem em legiões e são lideradas por generais chamados de Pretores. Destaque para as variações de seres humanos: você podia escolher ser oriundo de 3 tipos de gravidade: baixa, normal ou alta, cada uma com ajustes de regra e históricos. Lembro que em minhas campanhas, só permitia os jogadores jogarem com essas variações. As raças alienígenas eram exclusivas para os NPCs.
     No fim, Millenia é uma “caixa de areia” que lhe permite jogar uma campanha altamente militar, ou uma de exploração e descobertas, outras de cunho religioso com direito a cruzadas espaciais, campanhas de espionagem e conspirações, desventuras envolvendo contrabandistas, as combinações são quase infinitas! Meu grupo de jogo vinha até mim e perguntava: “Tem como colocar as criaturas de Alien, o 8º passageiro em Millenia?” “Tem com colocar um planeta cuja sociedade ainda era feudal?” “Tem como colocar uma arma tipo lightsaber?” Eu respondia sim a isso tudo e era diversão garantida naquelas férias de verão.   
     Hoje fica a nostalgia do livro escrito por Paulo Vicente e Ygor Morais, que certamente foram pioneiros no RPG quando só as empresas grandes (Abril Jovem, Ediouro, Saraiva, Devir), tinham coragem de investir nesse nicho aqui no Brasil. Refletindo aqui, não tenho nem ideia dos obstáculos enfrentados pela dupla para colocar esse livro na prateleira onde eu o encontrei no distante ano de 1995.


Até hoje, penso em criar uma adaptação de Mass Effect para Millenia. Mas isso é assunto para outro dia, abraço a todos e boas lembranças.

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