Acredito que foi em 1997 quando tive contato com o “RPG em um
Futuro Sombrio” da Talsorian Games (mesmos criadores dos geniais
Castelo Falkenstein, Fuzion, entre outros). Traduzido pela Devir, o
livro tinha a ficcional NightCity como cenário. Apresentando uma ambientação bastante aproximada da renomada Trilogia do Sprawl de Gibson, quando 2020 era um ano que
soava quase "mítico" aos nossos ouvidos. Assim, desde o início, adorei a
proposta e a possibilidade de experimentar um RPG bem diferente do
que estava acostumado até então (fantasia medieval, em suma).
Leitura essencial |
O livro oferecia a possibilidade do jogador escolher entre 9
“classes” (lembro que fiquei com a impressão que todo RPG
deveria ter “classes” bem definidas; isso saiu da minha mente
quando conheci o GURPS). Cada uma delas, também possuía uma perícia
exclusiva, algo como uma habilidade especial. As profissões eram:
- Roqueiros – por mais bizarro que possa soar, os roqueiros eram líderes natos que movimentavam as massas, fomentando assim, revoltas políticas e sociais. Inimigos número 1 do status quo.
- Solos – pra quem conhece Shadowrun, os solos são equivalentes aos samurais urbanos, mercenários aprimorados que oferecem os melhores serviços de escolta e combate.
- Netrunners – os piratas da era da informática, navegando pelos servidores para coletar informação e vender para quem puder pagar mais por ela. Tudo armazenado em disquetes!
- Corporativos – os jogadores principais do mundo dos negócios. Comece como um estagiário, termine gerenciando as mega-corporações que detém mais poder que o governo.
- Técnicos – o jogador escolhia entre duas ramificações: o Técnico padrão responsável por reparos e construção dos aparatos tecnológicos ou um “remendão”, um médico das ruas, especialista em atender mercenários moribundos ou netrunners catatônicos.
- Policiais – vigilantes com distintivo, pagos para deixar as ruas de NightCity mais seguras. Essa é a história contada para as crianças: a realidade das ruas de NightCity é cruel e selvagem.
- Atravessadores – esses eram os contrabandistas que operavam nos locais mais escondidos da cidade. Precisa de um modelo específico de moto? Uma arma mais potente? Munição especial? Procure um atravessador e boa sorte na negociação.
- Mídias – num ano de 2020 ao qual a internet não se tornou tão veloz e acessível como conhecemos, os Mídias, eram os principais veículos de informação (ou desinformação, certo?).
- Nômades – esses homens vivem à mercê do que conhecemos como nicho urbano, organizados em clãs e tribos, eles vivem num senso de comunidade chamado “A Família”, dominando as estradas e as “terras de ninguém”. Sucesso entre os fãs de Mad Max.
O Fluxograma |
Cyberpunk 2020 oferecia ferramentas bem interessantes para o
Mestre, um fluxograma extremamente detalhado ajudava os jogadores a
montarem um histórico bem amarrado, criando várias oportunidades
para histórias. Além disso, os Scream Sheets, eram um serviço
impresso de NightCity (como um jornal rápido e barato), com as
notícias do dia. O livro trazia várias para xerox e encorajava o
Mestre, a criar suas próprias. Na parte frontal, servia de handout
para os jogadores com as manchetes "mais quentes", logo, possíveis ganchos para
aventuras. Na parte de trás, trazia dicas para o Mestre transformar
aqueles tablóides em uma aventura completa. Um recurso simples e funcional.
O mapa de NightCity |
No mais, confesso que é um jogo que só fui usufruir 100% de
sua ambientação, depois de ler a trilogia de William Gibson: quando comecei a jogar Cyberpunk, eram histórias bem repetitivas que eu montava, com direito a explorar esgotos-masmorras! Bem bizarro, mas mesmo assim, era divertido. Hoje em dia, a obra-prima referencial do cyberpunk está com versões disponíveis pela Editora Aleph (antigamente eram verdadeiras relíquias nos sebos).
Quanto ao sistema, o RPG utiliza um sistema próprio e acredito que ainda dê pra jogar hoje em dia, sem problemas, apesar de ter muitas tabelas e listas de perícias (frutos de sua época). Lembro também ser um jogo letal,
que retratava muito bem “um tiroteio sexta-feira à noite” (como dizia o capítulo de combate). A saber, a diagramação e o linguajar do livro, ajudavam bastante na
imersão e entendimento daquele "futuro oitentista" que tanto aprecio.
Alguém mais teve experiências com o Cyberpunk 2020?
Bons jogos para todos!
Nunca joguei o Cyberpunk 2020, mas lembro de ter lido o livro na época.
ResponderExcluirSobre a ambientação, é fato demais que não dá pra jogar cenários desse estilo sem ter uma certa bagagem. Nem que seja um livrinho só, mas tem que ter.
PS: O RPG q tirou a ideia de classes da minha cabeça foi 3D&T. XD
Cyberpunk 2020 é um clássico. Pior que a leitura de Neuromancer é cansativa, mas a ambientação compensa demais. Engraçado ter mencionado o 3D&T, pois o primeirão "Defensores de Tóquio" também usava algo semelhante às classes: Herói Gigante, Ninja com Armadura Colorida, etc. Mas realmente quando ele se desprendeu dos tokusatsus, abandonou essa mentalidade de "classes" de fato. Abraço.
ExcluirA leitura do Neuromancer achei por vezes lisérgica. Havia momentos em que era claro que Gibson estava sob efeito de drogas, eram passagens difíceis de entender o que acontecia.
ExcluirCom Mona Lisa Overdrive eu fiquei sentindo que havia perdido algo da história, como se alguns personagens tivessem sido apresentados ou melhor descritos em um conto que não tive acesso.
Mas pelo menos o Neuromancer deveria ser lido para dar um gás em quem quer jogar ou mestrar nesse universo. Os outros trazem até ideias que hoje são comuns, mas na época eram vistas como coisas futurísticas e até mesmo xamânicas (como a conexão wireless).
Espero que Interface Zero consiga atualizar o cyberpunk sem perder o punk.
Grande Bruno! Neuromancer tem problemas de ritmo de fato, uma narrativa truncada, o grande atrativo era a inédita ambientação, a atitude característica do gênero. Ainda não conferi o Interface Zero... No mais, obrigado por ler e participar.
ExcluirE essa capa do livro tem um estilo muito "jogo de tiro de Mega Drive". Sei lá...
ResponderExcluirkkkkk, total!
ExcluirMelhor jogo que já joguei de longe! O sistema é rápido e realista, e o cenário é interessante e aberto à interpretação do Mestre. A ideia de classes fechadas pode parecer idiota e ultrapassada, mas as classes são bem abertas e eles ensinam como criar sua própria classe em 5 minutos (já até fiz adaptação pra Medieval, Faroeste e Star Wars com o sistema, de tão aberto). Foi também um dos primeiros jogos a usar XP pra aumentar as perícias e não pra passar de "nível". Infelizmente a Devir não trouxe os excelentes suplementos (como o Eurosource e o Night City) e o guia do Mestre ("Listen Up Your Primitive Screwheads"), que deixam o jogo muito melhor, sem tirar a essência (fora os de robôs gigantes, esses pode jogar no lixo mesmo).
ResponderExcluirE, pra não pensarem que sou um velho nostálgico e parado no tempo,tenho 16 anos e mestro 2020 há 3. Desculpa pelo comentário Fanboy, mas esse jogo merece!
BTW, excelente texto, continue com esses de nostalgia!
Verdade, lembro que achei estranho não haver um "avanço de nível", da maneira que até então, conhecia. Tive pouco contato com os suplementos americanos, mas lembro que gostei muito do Home of the Brave que expandia o material dos nômades para uma campanha mais Mad Max. Muito legal ver jovens jogando um RPG tão "underground". Quantos aos robôs gigantes, me parece que a Talsorian Games tem algum fetiche por eles. Se não me engano os RPGs oficiais de Macross e Mekton eram deles. Vale a pena conferir Fuzion, o sistema genérico da Talsorian. Obrigado por ler e deixar seu relato aqui. Abraço!
Excluiro sistema é muito ruim, o combate é lento e as habilidades existem em muito maior número do que o necessário. além disso, o custo pelos implantes é desequilibrado. contudo, é um cenário extremamente interessante e que vale conhecer, mesmo que extremamente datado, tendo em vista a época do lançamento (caixas que imprimem jornais com notícias atualizadas?)
ResponderExcluirSim, o sistema é datado mesmo e os implantes de fato, são apelões. É curioso como ninguém pôde prever que a informação pudesse ser instantânea e tão acessível para as massas. Obrigado por ler e comentar. Abraço!
ExcluirUm dos meus arrependimentos foi ter esse livro na minha frente mas não comprar porque na época era D&D ou nada. Depois que conheci o cyberpunk (como movimento), fui atrás do Cyberpunk 2020 e nunca encontrei.
ResponderExcluirTenho a terceira edição do Shadowrun, mas não me apetece o conflito fantasia x tecnologia.
Espero que o Interface Zero venha preencher essa lacuna de um RPG cyber que temos, com direito a invasões a servidores na matrix!
Todos já passamos por essa fase, ao qual nos prendemos fortemente em fantasia medieval...hahaha. Às vezes por comodidade, preconceito ou mesmo resistência por parte do grupo. Por sorte, nos meus primeiros anos de RPG, me apegava à todos os jogos disponíveis em português. Eu gosto bastante de Shadowrun, mas é incrível como uma proposta purista (como a do Cyberpunk 2020), faz toda a diferença no tom. Abraço.
ExcluirJá li mas nunca consegui ninguém para jogar.
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