sexta-feira, 25 de fevereiro de 2022

Resenha: Tome of Magic do AD&D 2ª edição

 

    Escrito por muitas mãos (David Cook, Carl Sargent, Nigel Findley, Christopher Kubasik), Tome of Magic é um compêndio lançado em junho de 1991 pela saudosa TSR que visa agradar tanto o DM quanto aos jogadores. E também lembro que poucos anos depois do lançamento, tinha a impressão de se tratar de apenas mais uma listagem de novas magias, entretanto, ele é bem mais interessante do que isso, como veremos a seguir.
Aceite: Spellfire é melhor do que Magic! 

Antes, porém, vale a pena elogiar a capa, arte do incrível Jeff Easley. Sempre fui apaixonado por essa arte, e meu primeiro contato com ela foi através do extinto cardgame Spellfire, utilizando parte da arte (diga-se) para a carta Avatar. Assim, comprei-o anos depois, e confesso que foi pela capa, acreditando que nunca usaria o conteúdo. Felizmente, com o passar dos anos e com a leitura do material, passei a gostar de muitos aspectos apresentados no tomo.  

Novas magias

    Sim, temos novas magias. Entretanto, também temos novas esferas. Inclusive, se você joga ou narra em Birthright tem esferas e magias citadas nesse cenário que só existem nesse suplemento, o que o faz praticamente obrigatório nesse caso. A esfera de Guerra por exemplo, tem efeitos de afetar uma unidade de soldados, outras de afetar o moral de uma tropa, etc. Algumas magias novas apresentadas só podem ser executadas por grupos também. Highway, por exemplo, permite criar uma rota mágica que sobrepuja qualquer tipo de obstáculo, o que acelera muito a viagem, mas que dá algumas ideias: por exemplo, encontrar um extra-planar enquanto viaja por ela, seja qual for a índole dele. Ponto alto para a magia Unluck que faz qualquer jogada do alvo (nas próximas 2d10 rodadas), serem basicamente em Desvantagem (mecânica vista muitos anos depois, na 5ª edição).  Uma leitura atenta, irá relevar magias bem interessantes de fato. Falando em interessante, o livro acrescenta para os clérigos, as Quest Spells, magias extremamente significativas (mas que não possuem Círculo definido) que devem ser avaliadas com cuidado antes de disponibilizar aos jogadores, pois podem quebrar uma aventura, quiçá, uma campanha, como magias que permitem viagem entre os planos, invocar exércitos de esqueletos, outra permite fazer com que uma área de plantio, atravesse todo o processo até a colheita em apenas 1 dia (o que seria OK numa campanha vanilla, mas muito poderoso num cenário como Dark Sun, por exemplo). No mais, o DM deve filtrar bem todo o material apresentado aqui para não gerar conflitos na história que vier a contar.

Duas novas abordagens para o Mago

    Já vi algumas resenhas desse livro por aí, simplesmente se esquecendo da “cereja do bolo” desse livro: as duas novas opções para Magos. A primeira consiste no Mago Elemental. Imagine um mundo onde todo mago deve ser especialista, só que ao invés de Escolas, temos o Elemento. Fogo oposto ao elemento Água, Ar oposto a Terra e vice-versa. Mecanicamente, recebem +25% para aprender uma magia relacionado ao elemento e o mesmo valor e penalidade para uma magia com elemento oposto. Além disso, essa especialização permite decorar uma magia extra por nível.  Entre outras vantagens, conforme avança de poder, ele pode até mesmo controlar elementais. Por fim, essa é uma variante que funciona num mundo de campanha onde todos os magos operaram dessa maneira ou para ilustrar um mago que venha de um reino diferente. Um mundo que possui uma gênese voltada a uma Guerra dos Elementos ou Primordiais, também são boas ideias para justificar esse tratamento.

    A segunda iteração arcana, é o Wild Mage, que possuem sua origem no livro Forgotten Realms Adventures (aquele livro capa-dura) e emulava magos que operavam no Caos da Trama Mágica, principalmente depois dos eventos que abalaram a deusa Mystra no cenário. Entretanto, Tome of Magic traz uma versão para ser usada em qualquer cenário de campanha. A principal novidade fica por parte do Teste de Magia, rolado no momento que um feitiço é castado, explicado na página 6 do livro. Dependendo do seu Nível de Conjurador e do resultado, a magia pode ser lançada bem mais fraca, bem mais forte o então com um efeito extra totalmente aleatório, definido numa rolada de 1d100 com 100 efeitos possíveis de fato: alguns bons, outros não. Eu gosto dessa proposta que remete bastante a forma que a magia é lidada no Dungeon Crawl Classics, por exemplo. Como meu exemplo do Mago Elemental, eu usaria como variante do Mago, mas também como a única forma de lidar com a magia no cenário, ou seja, com o arcano tentando puxar e manipular a força mágica dessa película fora da realidade, desse tecido composto de puro caos. Esse é um tempero em sua campanha, que vale a pena experimentar!

Wild Magic é diversão garantida!

Conclusão
Como não amar essas capas?
   
     Por fim, acredito que tenha sido um produto que vendeu relativamente bem, pois houveram outras reimpressões; como uma versão capa-mole e outra revisada que seguia o layout dos básicos revisados do AD&D. Sim, aqueles que a Abril Jovem trouxe pra gente nos anos 90. O último capítulo do Tome of Magic é destinado à novos itens mágicos, mas confesso que pouco explorei essa parte com o passar dos anos. Entretanto, destaco a ideia de Estandartes mágicos e a Horn of Valor (perfeitos para campanhas de Birthright). O livro fecha com um Apêndice que organiza as magias com as novas esferas apresentadas aqui e um index bem útil para consulta rápido durante as sessões. É um livro ideal para quem quer aumentar seu repertório e as Quest Spells, de fato, podem ser divertidas pois demandam certa solenidade e bastante preparo. Para quem gosta das muitas opções que a TSR oferecia, é um livro bem divertido.

Abraço a todos e bons jogos!

15 comentários:

  1. Tive a sorte de encontrar esse livro em um balaio de saldos por 5 reais em uma feira do livro de Porto Alegre. O livro mais barato de D&D que ja comprei!

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    1. Opa, que sorte mesmo. Eu já achei um vampiro a máscara vendendo na rua por 10 reais, um livreiro na porta do metrô. Esse sim, foi o rpg mais barato que já comprei. Grande abraço!

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  2. Coloquei seu blog no meu feedly. Sou bem chato com blogs brasileiros, mas gostei do que tu escreves. Não deixe o blog morrer.

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    1. Opa, muito obrigado! Compartilho da mesma questão sobre os blogs nacionais e foi justamente isso, que me fez iniciar esse aqui.

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  3. Esse livro parece ser muito bom! Nunca o tive, mas pelo visto vale a pena.
    Sempre pensei na questão da wild magic como sendo o tipo de magia que o Presto, de Caverna do Dragão, conseguia executar com seu chapéu mágico...

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    1. Em certo nível sim, mas a tabela não possui os itens anacrônicos do inconsciente do Presto...kkkk Por fim, é uma tabela interessante que adiciona um fato aleatório bem-vindo pra mesa de jogo.

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  4. Que bom que voltou a postar, tu escreve muito bem. Espero que continue, seu trabalho é único e de ótima qualidade, em breve todos seremos engolidos pela banalidade dos conteúdos para web de hoje em dia, então é melhor aproveitar o que temos agora.

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    1. Opa, palavras como as suas, ajudam a continuar com o blog! Eu também fico com a mesma impressão e esse aqui é o meu cantinho público para escrever sobre o que eu gostaria de ler por aí (e não encontro), principalmente materiais mais obscuros, e que fogem dos "trendtopics" por aí. Semana que vem teremos nova postagem. Grande abraço e obrigado por acompanhar.

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  5. Fala Ranieri, mais uma excelente postagem para o blog. Acho muito interessante a questão da magia selvagem abordada no livro, já usei em algumas aventuras em Forgotten.
    As quest spells também é algo que sempre tive curiosidade de saber mais a respeito e quem sabe usar nas minhas campanhas.

    ps: de fato Spellfire é melhor que Magic, difícil hj em dia é arranjar alguém para jogar com vc rs..

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    1. Valeu, Diogo. Wild Magic, hoje em dia, usaria em dois casos mesmo: cenário próprio onde a magia tem essa faceta caótica ou para retratar uma calamidade mágica ocorrida, como mostrado em Forgotten Realms durante o Time of Troubles. Sobre Spellfire, vou procurar uma plataforma online desse jogo, deve ter alguma coisa underground por aí... Abraço!

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  6. Sobre o Spellfire, eu já ouvi por alto que existia uma plataforma online para jogar, mas não corri atrás para saber mais a respeito. Se souber de algo, me avise por favor!

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    1. Se eu encontrar uma plataforma funcional, vale até fazer um post aqui p0ra divulgar...kkkk. Grande abraço!

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  7. Muito legal a resenha! Jogava o 2ed nos 90 e depois de passar por 3ed, 4ed, 5ed estou retornando ao 2 por saudade do sistema. O 2ed é um tanto incoerente a até exoterico, mas o charme desse jogo continua distinto. Comprei recentemente os core e os players/dms options, exceto pelo Monstrous Manual. Hoje acabei de comprar o Tome of Magic. Já estou relendo e matutando o que usar pra montar um joguinho cos amigo. Espero que continue trazendo mais material da velha escola. Valeu!

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    1. Opa, tem novas resenhas de coisas antigas vindo aí, pode deixar. É o forte aqui do blog. afinal! Obrigado por ler e comentar. A 2a edição, pra mim, sempre será perfeita, com todos "problemas" dela. De livros e caixas aqui dessa época da TSR, tem conteúdo para destrinchar a vida inteira. Abraço!

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