Nos anos 90, tivemos um boom épico de lançamentos de RPG aqui no
Brasil. Catapultado pela Grow lançando o D&D e a Estrela lançando o
Heroquest, as editoras viram um bom nicho aí por motivos óbvios: já trabalhavam
com livros, tradução, impressão, etc. Assim, quase todas as grandes editoras,
selecionaram alguns jogos para lançar no cenário nacional e ocupar uma fatia desse
novo mercado. A Ediouro lançou Shadowrun e alguns suplementos logo de cara, a
Saraiva lançou Aventuras Fantásticas e seu mundo de Titan, a Devir com o seu
GURPS. Até algumas editoras independentes entraram na briga. Naturalmente, a
maior das editoras (naquele momento), escolheu o maior dos RPGs (naquele
momento). E assim, a Editora Abril Jovem, disparou vários lançamentos.
Para o seu marketing, ela
atacava principalmente nas bancas de jornal, ao ponto de botar para vender seus
manuais básicos nas mãos dos jornaleiros. Além disso, como a Abril Jovem tinha
basicamente o monopólio dos quadrinhos, nada mais natural que usar esse veículo
para divulgar o novo produto. Agora chegamos ao assunto desse artigo: o saudoso
catalogo de lançamentos vindouros da Abril. Esse encarte vinha de duas formas:
a mais comum era grampeado nas páginas centrais dos quadrinhos da Marvel e da
DC. A segunda forma era solto, dentro de outros produtos comprados da editora. É
triste olhar para ele e ver vários produtos que nunca viram a luz do dia por
aqui. Vamos falar de cada produto constado:
Os Mundos da Magia
Era um portfolio da TSR,
mostrando com belíssimas artes, como eram os mundos vindouros. Eram imagens em
full page art, que tentavam passar o clima de cada ambientação. A fantasia
tradicional de Forgotten Realms e Mystara, a fantasia épica de Dragonlance, os
horrores de Ravenloft, o lado exótico e descontruído de Dark Sun, Gamma World e
Planescape. Se não me engano foi lançado em quatro fascículos juntamente
com os decks de SpellFire.
SpellFire
Esse era o cardgame da TSR,
depois de ver a nova febre do momento: o tal do Magic the Gathering. Era um
cardgame que joguei bastante (ainda tenho as cartas), e era até bonito, apesar
de usar desenhos previamente usados nos livros de RPG. Eles pegavam uma arte
linda do Elmore por exemplo e desmantelam o desenho, “criando” diferentes
gravuras para as cartas. Uma virava a “bota do mago”, outro virava o “cetro do
mago”, outro com a cara do mago, assim por diante. Uma rataria só! Por fim, no
Brasil só tivemos a 1ª edição e foi descontinuado.
Série “Você é o herói”
Essa foi uma série de
livros-jogos da TSR. Tive alguns, mas lembro que eles só permitiam você
escolher o caminho do herói. Não havia testes, não usava dados, nem tinha
combates, como a série Aventuras Fantásticas da Steve Jackson Games. Por isso
sempre foram vistos como os “primos pobres” dos verdadeiros livros-jogos. No
Brasil, saíram os 3 prometidos pela Abril.
Trilogia Dragonlance
Os famigerados romances de
abertura de Dragonlance só saíram por aqui, uma década depois, pela Devir.
Pelas capas, parece que o plano da Abril era lançar por aqui, as versões de
Portugal, mas infelizmente não rolou. Na época, ficamos na vontade mesmo...
Dragon Magazine
Durou cerca de 10 edições e no inicio ainda houve uma pequena confusão com uma OUTRA Dragon Magazine que estava saindo por aqui. Essa “outra”, é nossa amada Dragão Brasil. O Trevisan disse que a Abril ligou pra eles depois de alguns dias e disse: “olha, vocês tem que mudar o nome da revista de vocês pois vamos trazer a revista americana e nós pagamos os direitos dos produtos deles”. O resto é história, certo?
First Quest
No Brasil, para baratear, a
Abril lançou em 2 kits mensais. Nunca achei nas bancas, mas comprei o meu na
Bienal do Livro aqui no RJ. Durante uma excursão escolar. O material era
riquíssimo, contendo tudo o que pode chamar atenção em uma mesa de jogo:
livros, dados coloridos, miniaturas, mapas, encartes, escudo do mestre e até um
CD, descrevendo e dramatizando as aventuras prontas que acompanhavam o jogo.
Bons tempos jogando First Quest no recreio escolar. A cagada aqui, na verdade,
é que eles lançaram os kits DEPOIS dos Livros Básicos. Além do forte apelo
visual, não valia a pena comprar uma versão demo de um jogo que já havia sido
lançando meses atrás completo. Resultado: esses kits pegaram muita poeira nos
estoques da editora. Uma verdadeira “falha crítica” da Abril Jovem!
Coleção “Grandes Manuais”
Opa! Agora sim: esses foram o
carro-chefe da editora. Os três livros básicos do sistema Ad&d 2ª edição: o
Livro do Jogador, o Livro do Mestre e o Livro dos Monstros, lançados nessa
ordem. A qualidade dos livros era muito boa, mas eles tinham muitos erros de
impressão (principalmente o Livro do Jogador) ao ponto de vir acompanhando de
tabelas impressas para você colar por cima das tabelas do livro. Cerca de 10
tabelas estavam erradas! Mas enfim, fez sucesso, mas não foi lucrativo. Já vi
um dos editores da época dizer que a Abril achava que todo jogador de RPG no
Brasil iria comprar os 3 livros. O que sucedeu é que apenas um do grupo
comprava (geralmente o Mestre) e só. Isso matou a venda dos livros e dizem que
as caixas ficaram empilhadas nos estoques por anos! Hoje, esses livros são
vendidos a preços surreais “pelas internets da vida”.
Karameikos
Novamente, lançado aqui em
dois kits, era um mundo de fantasia tradicional que fundiu materiais apresentados
em suplementos menores ainda na época da 1ª edição do Dungeons & Dragons. Se
o First Quest funcionava no mercado como um ABC do RPG, Mystara era o ABC dos
cenários de campanha.
Night of the Vampire
Uma aventura de terror passada
no cenário de Mystara. Esse nunca foi lançado aqui. Parece que os produtos
desse catálogo foram divididos pela Abril em duas (ou mais) levas de
lançamentos. Como os lucros aguardados pela primeira leva nunca vieram,
anularam completamente as posteriores.
Forgotten Realms
Mais um lançado em 2 kits. Trazia
o mais famoso e completo cenário para o Ad&d. Confesso que a Abril fez um
ótimo trabalho com esse aqui. O material era fiel ao americano e respeitaram
uma das principais regras da tradução: NÃO SE TRADUZ NOME PRÓPRIO PORRA! Logo,
Waterdeep, se chamada Waterdeep, Baldur´s Gate, se chamada Baldur´s Gate. Simples
não é? Como ia dizendo, o material é incrível, muita descrição do cenário, dos
NPCs, das organizações, dos deuses. Essa “caixa” vinha com tão pouca regra, que
pode ser usada para qualquer outra versão do D&D que estiver jogando.
A Ruína de Daggerdale
Essa era uma aventura que se
passava na Terra dos Vales em Forgotten Realms, mas acredito que nunca saiu
aqui. Foi embora com os outros produtos cancelados.
As Ruínas de Undermountain
Esse saiu bem no final da
linha. Era uma expansão do Undermountain, a maior masmorra já criada (pelo
menos em sua época de lançamento). Apresentado um cenário dentro do cenário de
Forgotten Realms, imenso com todo um ecossistema e hierarquia entre as raças que
habitavam esse subterrâneo. “Pra variar”, lançado em dois kits.
Ravenloft, névoas do terror
Esse é o produto cancelado que
dá uma dor no coração. Seria a caixa básica do cenário de terror gótico do
Ad&d. Uma década depois, a Devir nos trouxe o Domínios do Medo que era todo
o material gringo compilado e revisado em um livrão. Mas infelizmente ficamos
sem essa caixa nacional, que viria com lindos mapas, o baralho dos Vistani, um
escudo do mestre personalizado. Uma pena...
Por fim, encerro aqui o
Momento Nostalgia da semana. Foi uma época bem inocente onde era dada muita importância para cada fragmento de informação, devido à escassez de fontes, ainda mais para nosso hobby. Em breve, mais resenhas de outros produtos
clássicos.
Bons jogos a todos!
Uma das grandes decepções, pois deixaram nossa imaginação a mil com o que poderia sair aqui. Uma pena que quem acabou pagando o pato com essa falha de estratégia da Abril Jovem fomos nós, que ficamos sem material oficial de AD&D novamente até a Devir assumir a linha (por dois livros...).
ResponderExcluirPassava horas admirando esse catálogo. Uma pena que muita coisa boa não saiu. Nas mãos da Devir saíram, na verdade, três livros: a reimpressão com erratas do Livro do Jogador, o Livro do Guerreiro e o Domínios do Medo. Grande abraço.
ResponderExcluirMuito agradecido. Tenho esse encarte também, e comprei meus livros na época. Dos livros comentados que foram lançados Não adquiri o livro dos monstros e hoje me arrependo. Não encontro para comprar. Unico que achei foi de uma coleção onde o dono pede 2000 reais. Inviavel.
ResponderExcluirEsse encarte é pura nostalgia mesmo. Fique de olho nos grupos de venda de RPG pois vez ou outra, aparece um Livro dos Monstros num preço mais realista. Abraço!
ExcluirAinda tenho um encarte desses. Pena que muita coisa nunca saiu. 😞
ResponderExcluirDragon Magazine durou 14 edições.
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