Depois de falar de TITAN e dos
clássicos livros-jogos, nada mais natural falar do RPG lançado pela Editora
Marques Saraiva: o Dungeoneer. Esse era o livro que trazia todas as regras
avançadas para seus jogadores montarem os heróis em Titan, com regras
expandidas das já apresentadas nos livros-jogos. Curioso observar que as
editoras gringas (a TSR com o AD&D e a linha Fighting Fantasy com o
Dungeoneer) tinham a duvidosa estratégia de vender esses livros como “regras
avançadas”, seja no nome ou como um selo impresso na capa, o que era um
tremendo desserviço, pois intimidava e afastava iniciantes.
Enfim, Dungeoneer, atingiu as
prateleiras brasileiras em 1993 e em suas quase 400 páginas apresentava um
sisteminha bastante simples, trazia ainda aventuras prontas, dicas para o
Mestre, listas de magias e equipamentos e em suas últimas páginas, personagens
prontos. Infelizmente ele fazia de maneira confusa: navegar pelo livro é uma
verdadeira “dor de cabeça”. Percebe-se que os autores (os ingleses Steve
Jackson e Ian Livingstone), queriam que durante a leitura, o jogador tivesse
uma experiencia didática e orgânica, mas na prática, um livro de regras de RPG
não funciona assim. Logo, o livro reveza entre informações para o Mestre,
informações para os jogadores, aí entra uma aventura pronta, depois regras
simples, depois mais informações e dicas, depois regras complexas, e pra
finalizar uma segunda aventura pronta. Confuso, certo? Mas não se engane: eu apenas quis tirar os pontos negativos da frente logo de cara. Dungeoneer é um RPG simples extremamente divertido e inspirador!
A ficha é bem simples e isso é ótimo! |
Usando apenas dados de 6 faces, 3
atributos, uma ficha minimalista, e uma arte PB fantástica, o jogo é capaz de
emular um incrível clima old school. “Mas então: apenas 3 atributos?” – você
pergunta. Sim, os mesmos dos livros jogos: Habilidade (que representa a tanto a
Agilidade quanto a Sagacidade do seu personagem), Energia (que funciona como
Resistência e Pontos de Vida) e a Sorte. Esses aspectos funcionam muito bem,
por serem abstratos. Isso garante que por exemplo, uma porta pesada possa ser
aberta usando força bruta ou que você ignore ela e escale a torre por fora.
Ambas as tarefas, são resolvidas com o mesmo atributo, mas pela a abordagem
dada pelo jogador e sua imaginação, criaram resultados diferentes DENTRO da
história. A sua constituição representar diretamente seus pontos de vida é uma
sacada bastante elegante também. Quanto mais dano recebeu, mas difícil será
resistir à um veneno, por exemplo. A Sorte é o quão favorecido dos deuses, o
personagem é. O mestre pode solicitar um teste de Sorte para determinada
situação ou o próprio jogador, mas toda vez que o fizer, ele reduz 1 ponto de
Sorte, automaticamente. Conan ao invocar Crom, por exemplo.
E se eu quiser montar um personagem
capaz de utilizar magia? Simples: ele anota Magia como uma de suas habilidade Especiais e destina pontos de seu próprio Atributo Habilidade para ela, mas diferente de outras habilidades especiais, esse valor despendido será REDUZIDO no total final do atributo. Logo,
se o seu personagem deseja ser um mago, e ele tem Habilidade Inicial
de 10, pode distribuir seus 10 pontos normalmente entre as Habilidade Especiais, colocar Magia 5 e no final do processo, reduzir o total do atributo em 5 pontos. Isso representa os anos de treinamento em laboratório ou em uma
escola de magia, por exemplo.
Ainda falando de magia, o Dungeoneer opera com um sistema de Magia bem interessante. Não é “vanciano”. O mago pode logo de cara, encontrar ou ter acesso a magias bem poderosas, mas cada uma possui custos de Energia. O livro recomenda de custos até 4 pontos. Quando essa mana “esgotar”, nenhum efeito poderá ser realizado. Lembra a magia usada por Raistlin em Dragonlance. Além disso, cada efeito realizado, o mago deve passar em um teste de magia. Uma falha crítica nesse teste, pode ter resultados desastrosos, digno das tabelas do Dungeon Crawl Classics.
O combate tem nuances bem
inteligentes também como comparar o valor de ataque e defesa. Se o atacante
superou nesse total, pega-se a diferença e verifica-se de acordo com a arma
usada numa tabela específica para verificar o dano causado. Dica: separe uns marcadores de página para agilizar a consulta a essas tabelas, pois elas ficam
espalhadas pelo tomo, como citei.
O livro básico junto com o Livro dos Monstros e o Cenário de Campanha. |
O livro assume que os personagens
serão humanos, pois eles são maioria em Allansia, mas ainda traz regras para
anões e elfos, apesar de reforçar que aventureiros dessas raças são extremamente
raros. Esse tipo de afirmação simples, por exemplo, ajuda muito ao criar o clima
fantástico e misterioso para o grupo, logo de cara. Entretanto, se visar algo
mais high fantasy, outras raças podem ser criadas fácil e rapidamente nesse conjunto
de regras. Outro ponto positivo é que o conjunto de regras é bem flexível e
versátil. Sem aspectos restritivos como classe de personagem, por exemplo,
sendo assim possível, criar um espadachim que usa algumas magias (como Elric),
sem dores de cabeça ou mecânicas complicadas para tal. Para os entusiastas da
escola véia (como diz o Tio Nitro), e os saudosistas das Aventuras Fantásticas,
é impossível não ficar inspirado com a arte de John Sibbick.
Inquestionavelmente, Dungeoneer hoje
é considerado um clássico. Se tiver a oportunidade de encontrar esse livro a um
preço em conta, não deixe de pegá-lo. Um sistema simples e divertido, pena que usa
páginas demais pra afirmar isso...
Em breve farei uma resenha sobre o Out of the Pit, o livro dos monstros de Dungeoneer. Abraço a todos e bons jogos.
Os livros de regras até podem ser encontrados com preços (mais ou menos) viáveis, mas "Out of the Pit" e "Titan" são achados bem caros!
ResponderExcluirSim, de fato. Para os interessados, recomendo ficar de olho no Mercado Livre e na Estante Virtual. Abraço!
ExcluirApesar de "Dungeoneer" (e sua continuação/complemento, "Blacksand") serem chamados de "avançados", existe o livro "RPG Aventuras Fantásticas" que vinha com o básico do básico (que é expandido "Dungeoneer"). Acho até que é mais fácil de encontrar do que os demais.
ExcluirPor um tempo ele até foi mais fácil. Curiosamente, hoje em dia é o inverso. Pelo menos é o que as minhas pesquisas no ML e na EV indicam.
Excluirtenho um aventuras fantásticas sobrando :P
Excluirconsegui os quatro :) Meu sonho agora seria Allansia em pt-br
ResponderExcluirSIm, verdade!
ExcluirAqui na minha estante faltam "Out of the Pit" e "RPG Aventuras Fantásticas".
ExcluirO "Out of the Pit" está por volta de 80 contos no Estante Virtual. O Aventuras Fantásticas está 120! Absurdo! O Dungeoneer, que é bem mais completo, está um terço disso.
ExcluirO Allansia em português só se for milagre ou se uma alma bondosa traduzir. Após anos eu comprei um Allansia pra mim, em inglês claro...heheheh
ExcluirMas queria em português também...
O Allansia em inglês, hoje em dia, está bem raro!
ExcluirPaguei um preço absurdo por ele pra um colecionador se desfazendo da coleção. Mas ainda mais barato do que se fosse importar. É realmente um item bem raro. No momento é a joia da minha coleção de aventuras fantásticas. Superou o "Escravos do abismo".
Excluirpior que nem um scan bom do Allansia se acha :|
ExcluirVou te dizer que o livros é bem ruim pra scanear. Fiquei tentado a iniciar uma tradução quando comecei a ler para quem sabe no futuro ter ele em português do lado dos outros. Mas acho que se eu por ele em um scanner detono o livro, o acabamento dele e o papel é inferior ao do dungeooner e blacksand que saíram aqui.
ExcluirDe fato. Além do tamanho incomum dos livros, eles possuem uma encadernação fragil e um miolo com aquela cola que "petrificava" com o passar dos anos. A solução seria redigitar e replicar a diagramação. Baita trabalho...
ExcluirEu até comecei um OCR em cima do unico scan que achei, pra dar material pra quem quiser traduzir. Mas no meu ritmo vou demorar anos (e tenho de terminar o OCR do Dicionario Marvel antes :P)
ExcluirÓtima resenha. Sempre tive o livro de Titan e joguei muitos livros jogos, mas nunca tive o Dungeoneer.
ResponderExcluirObrigado Diogo. Vale a pena ir atrás dele. Vi hoje mesmo na Estante Virtual por algo em torno de 20 reais.
Excluirpergunta tosca: o livro Aventuras Fantásticas (o com dragão vermelho) tem algo a ver com essa série?
ResponderExcluirSua pergunta é deveras interessante, na verdade. Esse livro que mencionou apresenta as regras simples desse mesmo sistema resenhado. O Dungeoneer possui as regras simples e as avançadas.
ExcluirEntão seria algo tipo D&D = Aventuras Fantásticas, AD&D = Dungeoneer? E BlackSand, Allansia, Titan e Out of the Pit, suplementos XD
ResponderExcluirHum, não sei se faria essa comparação. O Dungeoneer tenta cobrir muitas situações com regras específicas e tal (como esquiva, lutar no escuro, etc), quando ele é tão simples que o Mestre é capaz de pensar em bônus ou penalidade para esses testes, facilmente. Por fim, ele simplesmente expande o que já havia sido apresentado tanto nos livros-jogos quanto nesse "Aventuras Fantásticas - Uma introdução para os RPGs". Espero ter ajudado.
ExcluirE não esqueça do Blacksand! É outro que merece uma boa resenha. O melhor gerador de cidades para cenários de fantasia que já vi!
ResponderExcluirBem lembrado. Em breve farei uma resenha só dele. Abraço!
ResponderExcluirBlacksand! foi o meu primeiro, comprei logo quando me mudei pro Rio, perdido em uma estante da Saraiva. Depois fui atrás dos outros livros, começando com o Dungeoneer, depois o Aventuras Fantásticas, Titan e Out of the Pit.
ResponderExcluirAchei que durante a faculdade ia mestrar para o povo daqui usando Dungeoneer, mas demorei até encontrar quem de fato quisesse jogar e tivesse tempo e disponibilidade.
Era uma pena o próprio Dungeoneer não vir com uma ficha de dragão (que vinha no Aventuras Fantásticas).
Eu estava jogando em uma mesa no mundo de Titan usando as regras do BFRPG (basicamente D&D B/X), mas estamos em um hiato de alguns meses.
Olá Bruno! Em breve teremos um post específico para Out of the Pit e outro para Porto Blacksand. Tomara que também revivam essas boas lembranças. Sempre que leio esse material dá vontade de montar uma mini-campanha. Se o fizer, reportarei aqui no blog. Grande abraço!
ExcluirQuem gosta da ambientação, vale garimpar os romances, "As Guerras de Trolltooth" e "Demonstealer".
ResponderExcluirAs Guerras de Trolltooth é muito bom, de fato. Demonstealer nunca nem tive em mãos. Por fim, bem legal ver que a galera ainda tem muito carinho por esse material.
ResponderExcluirAs Guerras de Trolltooth é um clássico da fantasia. Não sei porque ele não é um romance mais famoso. O Demonstealer não mantem a qualidade e não é tão bom quanto o primeiro, mas tem uma boa história.
ExcluirEm meio a era da tecnologia, parabenizo a que ainda propaga a cultura da leitura e da criatividade.
ResponderExcluirRPG é vida!
Meus sinceros parabéns. Já coloquei como favorito aqui.
Valeu José! Comentários assim nos ajuda a continuar! Grande abraço!
Excluirdahora mano esse blog parabens
ResponderExcluirValeu bro!
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