Eles são diferentes, mas são iguais... |
Oriundo das áreas de games eletrônicos,
o termo re-skin (“revestir”, numa tradução mais acurada), significa, na
prática, você alterar um item previamente programado, mas apenas em sua
estética. Logo, vamos dizer que você tem uma pistola da Confederação Humana que
tem dano X e alcance Y por exemplo, e você vai desenvolver uma arma equivalente
para sua raça inimiga, você deixa a programação original da arma, mas muda a sua estética
para se adequar ao outro povo. Uma pistola de revestida de queratina para um povo
insetóide, por exemplo. Fiz todo um novo design, mas copiei e colei a programação. Pronto! O mesmo, pode ser feito com qualquer outra coisa: veículos, cenários, NPCs, quests, etc. No RPG de mesa, o re-skin é muito bem-vindo também, e certamente
garante as mesmas vantagens que o seu análogo eletrônico: fazer o programador (Mestre de Jogo) ganhar tempo, poupando assim, trabalho e retrabalho. Na verdade, quando bem executado, é um processo
quase invisível, ou seja, muitas vezes, o jogador nem percebe!
Pra deixar bem claro agora, essa prática é o que eu chamo de "Síndrome do Stormtrooper". A saber, ao longo da franquia Star Wars, há troopers
para florestas, para ambientes aquáticos, snowtroopers e "trocentas" outras variações. Em termos
de regra, provavelmente eles serão mecanicamente idênticos. Claro que posso
colocar algum diferencial entre eles, até mesmo para quebrar a expectativa em
dado momento. Mas em suma, não há
necessidade de queimar a cabeça e gastar tempo precioso, montando a ficha de
cada um desses sub-tipos. Se você tiver tempo e disposição pra tal, beleza, vá em frente! Eu
infelizmente, não tenho. E torna-se um recurso útil nas situações on the fly (como dizem os americanos), onde você precisa sacar as mecânicas de um NPC ou criatura rapidamente. No mais, tal prática pode ser feita, obviamente, com qualquer
sistema e cenário que imaginar. Entretanto, quanto mais simples (ou abstrato) for o sistema que joga, mais fácil será esse processo. Isso eu te garanto!
Lembro lá nos anos 90, que um amigo
meu com pouca grana, não tinha o livro básico de Vampiro: A Máscara, que era um livro bem
caro mesmo (dado o preço proporcional e ajustado da época). Daí ele me disse que estava
jogando Vampiro, mas com o Manual Vermelho do 3D&T. De início, eu ri, achando que era alguma piada, mas ele pacientemente, me explicou. As vantagens com tom sobrenatural, eram os poderes:
com "Aceleração" fazendo o papel de Rapidez por exemplo, "Ataque Especial" para
efeitos de Potência, "Invisibilidade" para efeitos de Ofuscação, etc. Tudo isso, sem ter que mexer em nada no sistema: só trabalhando com o re-skin dessas habilidades. Eu achei
genial, depois de refletir com calma. Nessa época, eu tinha bastante preconceito com esse tipo de
coisa, se eu fosse jogar um RPG de Star Wars, tinha que ser com o livro oficial
ou montar uma adaptação coesa e ilustrada com a temática ou simplesmente não funcionaria
pra mim. Hoje vejo o quão libertadora pode ser essa mentalidade do re-skin.
Vocês avistam, lá embaixo, um stormtrooper. Só que ele é amarelo... |
Depois desse episódio, jogando AD&D, com jogadores já veteranos, que conheciam as criaturas de A a Z no Livro dos Monstros, (e olha que era um desafio com aquele livrão de quase 400 páginas!), eu simplesmente pegava uma criatura e mudava inteiramente sua descrição. Isso causava um choque mental imediato (Putz, não lembro dessa criatura no livro! Você que inventou esse monstro? – eles indagavam). “Sim, sim, claro!” – eu respondia, disfarçando o riso. Quando na verdade, estavam enfrentando apenas um dos dinossauros da página 54 do livro. Simples assim. Depois disso, fiz muitos exercícios de criatividade com esse recurso. De cabeça, lembro uma campanha de Yu Yu Hakusho utilizando apenas o Street Fighter RPG e outra de Final Fantasy usando 3D&T. Na verdade, pensando agora, sistemas genéricos como esse último e GURPS geralmente já treinam o Mestre a pensar bastante "fora da caixa". Re-skin não é uma prática que "assusta" a galera que vem desses jogos, pelo menos na minha percepção.
Por fim, a Síndrome de
Stormtrooper, é apenas uma ferramenta para você ter no seu leque de opções como
Mestre. Serve para ganhar tempo e otimizar esforços, quem sabe gastar mais
energia na composição da trama da campanha, e agilizar a parte mecânica. Nada errado com quem gosta
de dedicar muito tempo nesse aspecto, mas nunca foi o foco principal nas minhas mesas. No final do dia, se eu preciso de uma estranha criatura que rasteja pelo pântano, não tenho
nenhum problema em pegar o bloco de estatística de um crocodilo para exercer tal papel.
Abraço a todos e bons jogos!