OBS: o
artigo abaixo não contém nenhum spoiler.
Meses atrás,
a editora Arqueiro lançou o primeiro volume de uma série de 10 livros (a
campanha em Malazan não é para preguiçosos, como bem diz o autor na introdução). Existem outros livros e contos que se passam no mesmo universo, mas essa é a linha de acontecimentos principal. Já havia grande expectativa, pois, a obra do canadense Steven Erikson sairia
pela Saída de Emergência ano passado, mas a editora decretou falência e os fãs
ficaram tensos por um tempo. Felizmente, a editora Arqueiro absorveu a filial
da editora lusitana e arcou com grande parte da agenda original, finalizando
trilogias previamente lançadas até!
O primeiro
volume se chama Os Jardins da Lua e nos apresenta sem perda de tempo ou “tutoriais”
como aquele mundo de fantasia medieval funciona. Num estilo “chutando a porta”
o autor não perde tempo com didatismos e foge da já clichê “jornada do herói”,
tão optada por escritores iniciantes. Além disso, Malazan não é maniqueísta.
Não tem isso de personificações absolutas do Bem e do Mal. O livro é uma
fantasia medieval com os dois pés no tão aclamado gênero de “espada e
feitiçaria”, ou seja, é cada um por si e vamos sobrevivendo dia após dia. E não
pule a apresentação da obra! Escrita pelo próprio autor, ele explica que grande
parte da trama e dos personagens nasceram em sua campanha de RPG. Ele pegou o
GURPS, modificou o sistema de magia para um que lhe agradasse mais (que é usado
de fato, na ambientação apresentada). Esse sistema de magia é um dos pontos
altos do cenário, mas falarei mais daqui a pouco. Ele tentou vender o material
compilado em todos aqueles anos como um filme, mas a indústria cinematográfica
no final dos anos 90 não estava interessada nisso. Apesar de Steven ter ficado
chateado quando uns dois anos depois, estreava A Sociedade do Anel. Mas
enfim...
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Lankhmar? Não, essa é Darujhistan. Mas tão perigosa quanto! |
Para ser
mais direto possível, diria que O Livro Malazano dos Caídos (como a saga veio
oficialmente traduzida) é uma mistura perfeita de Lankhmar de Fritz Leiber com
A Companhia Negra de Glen Cook. O livro é estruturado a partir de vários pontos
de vista (mais ou menos como George R.R. Martin faz), logo não há o ponto de
vista oficial de um protagonista. E isso é já suficiente para recuperar o
folego de leitores vorazes de fantasia, que buscam uma nova saga para
acompanhar, mas sem cair nos mesmos tropes e clichês. O sistema de magia
adotado é de fato interessante. Magos podem acessar Labirintos que fornecem
poder. Quanto mais poderoso o mago for, mais Labirintos ele consegue acessar e
acionar na hora de um combate, por exemplo. E quanto a premissa do primeiro
livro?
Em suma, o
primeiro livro nos situa na campanha Imperial para conquistar as Cidades
Livres. Quem tiver controle desses centros comerciais, controla o continente. Os
soldados mais eficientes compõem a tropa de elite conhecida como “Queimadores
de Pontes” e cada exército possui um quadro de magos, para efeitos de
destruição em massa, comunicação, logística e espionagem. Como na Companhia
Negra, eles fazem o trabalho que a tecnologia cumpriu nas nossas Grandes
Guerras Mundiais. Na trama, nossos personagens descobrem que a Campanha que
participam é muito mais complexa do que achavam, havendo sabotagens de dentro,
e até mesmo a participação dos Ascendentes (como os deuses são denominados no
cenário). Essas entidades não só possuem sua própria agenda, como tomam
emprestado corpos mortais para realizar suas tarefas no plano material.
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Grande parte do elenco. |
Leitura recomendadíssima!
Em breve teremos outro post, com spoilers e sobre os mistérios que ficaram sem
resposta no primeiro livro. Abraço a todos.
Tava curioso sobre essa história.
ResponderExcluirOuvi dizer q a editora só lança o resto se vender bem o primeiro...isso me deixa com um pé atrás de comprar iniciar a leitura.
Boa resenha me deixou mais curioso.
Abs!
Literatura especulativo está em alta. Nos grupos literários, Malazano sempre teve destaque e divulgação. Muito certo da editora lançar os outros. Grande abraço.
ExcluirRanieri, tira uma dúvida...
ExcluirVi em um site de livros dizendo que quando se lê o Jardins da Lua, vc tem que ficar fazendo constantes consultas nos apêndices para saber sobre nomes entre outras coisas.
Sendo assim a versão e-book não seria tão viável de se ler. Isso confere? É melhor ter a edição física?
De fato acontece bastante. Por dois motivos: são muitos personagens e todos tem um pequeno background assim que a história inicia. Suas ações durante a trama, estão diretamente ligadas a isso. Mas confesso que não me incomoda. Apesar de ter um Kindle, amo passear pelas páginas analógicas. Abraço.
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