quarta-feira, 16 de janeiro de 2019

True Detective – 3a temporada (EPI 01 e 02)


O texto abaixo contém spoilers dos episódios.
 
Os dois novos investigadores que se deparam com o Oculto.
True Detective está de volta com a exibição de dois episódios em sua premiere na HBO: “The Great War and Modern Memory” e “Kiss Tomorrow Goodbye.” E para quem estava com saudade das referencias ocultistas que tornaram a primeira temporada tão memorável, já pode comemorar. Essa terceira temporada parece estar se alimentando das mesmas fontes. Aqui, acompanhamos o detetive Wayne Hays (interpretado pelo excelente Mahershala Ali) e seu envolvimento no caso perturbador do desaparecimento dos irmãos Purcells. Will e Julia, desapareceram no Halloween de 1980 enquanto estavam passeando de bicicleta. As informações e peças desse quebra-cabeça, novamente nos são apresentados em três timelines distintas: a investigação na época do crime, durante a reabertura do caso nos anos 90 e em 2015, quando Hays é chamado para participar de um documentário. A investigação e busca, são iniciados, e qual o minha surpresa ao notar esse plano durante alguns segundos na tela:

É uma questão de tempo pra alguém escrever essa aventura.
Sim, um modulo de AD&D 1st edition chamado The Forests of Leng. Mas antes de você abrir uma aba para o Google e procurar essa aventura para baixar, saiba que se trata (infelizmente) de um modulo fictício, criado pelo departamento de arte da série. Entretanto, aprendi na época da faculdade de Cinema, que nada na cena é gratuito. Basta uma busca rápida e você descobre que Leng existe (bom, ao menos na literatura, certo? Certo?) e esse local acessado por portal, pertence ao cânone Lovecraftiano. Aparentemente, Leng é um plano paralelo ao nosso, habitado por seres muito antigos, que existem desde a aurora dos tempos. Aquele livro não está ali à toa! Logo, assim como Carcosa (do autor Robert W. Chambers) pontuou a temporada inicial, acredito que Leng pontuará essa. A título de curiosidade, Leng já fora usada na cultura pop por Neil Gaiman, Alan Moore, George R.R. Martin e também por Stephen King.

O contexto da temporada é incrível, repetindo com excelência uma atmosfera estranha e tensa, diretamente ligado ao Satanic Panic que assombrou os EUA nesse período: por isso, na minha opinião, temos a cena do detetive perguntando que banda era aquela na camisa do rapaz (Black Sabbath em seu início), a presença de um livro de AD&D (que estava vivendo um verdadeiro caça às bruxas) e finalmente as evidências encontradas por Wayne Hays no final do primeiro episódio: as bonecas de palha e por fim, o encontro do corpo de Will numa posição ritualística e sacrificial. 


Vale notar, que Hays em 2015, já está se tornando senil (provavelmente o começo de um quadro de Alzheimer) e por isso, aquele final do segundo episódio: ele recobrando a percepção em um local estranho, sem saber como foi parar ali. Um paciente com Alzheimer  tende a perambular achando está indo para casa ou qualquer outro lugar acionado por algum fragmento de lembrança. Entretanto, o interessante é que surge uma dúvida: Hays vagou por pura senilidade ou é o seu inconsciente que está tentando dar alguma resposta para um caso que ficou em aberto, anos atrás? Talvez seu inconsciente está tentando leva-lo a um local ou pista que ele tenha deixado passar. Afinal, como ele mesmo diz frente à câmera da documentarista, aquele caso foi sua “investigação mais importante e perturbadora”.

Desde a primeira temporada True Detective é sobre esse culto maligno, que mesmo fragmentado, parece obedecer à uma única agenda, igualmente diabólica. Seus membros mais influentes, talvez nunca serão descobertos (quem dirá o Rei de Amarelo!), mas como Rust diz no season finale, essa luta do Bem contra o Mal existe e é como um céu noturno: apesar de toda a escuridão, cada estrela é um detetive do oculto fazendo sua parte, enfrentando demônios, às vezes internos, às vezes literais. Se o clímax da temporada de Rust e Martin foi numa catacumba fazendo analogia ao mundo sombrio de Carcosa, aposto minhas fichas que teremos nessa, um embate na floresta, remetendo às assombrosas e desconhecidas Florestas de Leng.



Para terminar, ficam alguns mistérios intrigantes no ar:

- Quem fez o peep hole para o quarto das crianças? O pai? O Tio? Will?
- Quem está envolvido na morte ritual de Will? O Trash Man? Os jovens do high school (tem uma cena no episódio 2 que é possível ver de longe, um deles praticamente pedindo para o outro ficar “de bico calado”. Alguma coisa eles sabem. Já no final do segundo episódio, os detetives tem um plano: descobrir quem estava distribuindo as bonecas de palha para as crianças durante o trick or treat.
- Se Julia ainda está viva, como foi a vida dela nesse longo espaço de tempo? O que ela sabe ou se lembra?
- Assim que as crianças começam a pedalar, elas passam por 3 pessoas: um garoto (de idade aproximada a deles) que acena e sorri como se todos ali compartilhassem um segredo, passam pelo Trash Man (que me pareceu inocente depois de ter prestado depoimento no segundo episódio) e uma mulher pendurando um jack o´lantern em sua varanda. Será ela quem estava distribuindo as bonecas de palha?

Ansioso para os próximos episódios e pelas próximas peças para essa temporada que está incrível e instigante como a primeira. Só esses dois primeiros episódios, já estão melhores que toda a 2a temporada. Parece que o showrunner Nic Pizzolatto finalmente escutou os fãs e voltou a beber das fontes que deram a origem a essa antologia que já é referencia no horror moderno e para os entusiastas de Call of Cthulhu.

Abraço a todos e fiquem a vontade para colocar suas teorias aqui.


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