quarta-feira, 9 de dezembro de 2020

Resenha: Lamentations of the Flame Princess


Essa resenha está bem atrasada, eu sei. Já resenhei inúmeros suplementos do Lamentations aqui no blog, mas nunca o livro básico! Bom, antes tarde do que nunca! Eu adquiri o livro básico de Lamentations of the Flame Princess anos atrás. Já estava acompanhando o movimento OSR e vendo várias propostas de sistemas e jogos que tentavam emular versões antigas de D&D. Alguns RPGs faziam isso com pouco estilo ou de maneira genérica, outros já faziam com mais identidade e geralmente com um twist que de fato, me fisgava. DCC e Lamentations lideram nesses quesitos, na minha opinião.

Idealizado por James Edward Raggi IV, um entusiasta americano do hobby, que hoje reside na Finlândia, o jogo originalmente foi criado em 2009, formatado num box com tiragem limitada. O chassi do sistema, a saber, é tutelado pelas normas da famigerada OGL, mas novamente com alguns twists que irei pontuar abaixo. Com o sucesso, ele lançou em 2013, uma versão revisada formatada em um A5 capa-dura (que ilustra esse post). O apelo do jogo era justamente o weird fantasy, apesar dele não trazer nenhum cenário base. O que eu gosto bastaste, dando brecha para você criar o seu próprio, adaptar o seu favorito ou pegar alguma das ambientações que saíram oficialmente sob o selo de Raggi, o metaleiro. Falando em metal, toda a arte do livro (desde a capa), parecem CDs noventistas de heavy metal, speed metal, black metal, doom metal e aquelas barulheiras que eu não parava de escutar trancado no quarto. Mãe, te amo!

Juro que tem um halfling
nessa imagem! 


Apesar do núcleo do sistema ser reconhecidamente o B/X clássico e ter raças como classes, os seis atributos famosos de D&D e a estruturação vanciana de magia, o jogo tem muitos diferenciais simples e elegantes, o que faz realmente o sistema dar um passo adiante no que já é familiar para veteranos. A Categoria de Armadura é ascendente, ok? As resistências foram repensadas, mas a mecânica é a mesma das versões antigas do nosso querido D&D. A divisão Paralyze/Poison/Breath/Device/Magic faz mais sentido do que vimos até o AD&D 2ª edição, por exemplo. Essa “vaca sagrada” só foi reformulada na 3ª edição, como sabemos. Outra boa sacada é a classe do Especialista que substitui por completo, a classe do ladrão. De maneira simples, o que vai diferenciar e tornar seu Especialista único, é a forma ao qual você DISTRIBUI seus pontos de perícia. Quer ter uma pegada de ranger? Coloque pontos em Bushcraft, Stealth, etc. Quer um assassino, invista seus pontos de Sneak Attack. Quer um carinha digno de Lankhmar? Capriche no Sleight of hands e Climb. Se você já está torcendo o nariz, achando que o sistema de perícia é como o visto no D20 em geral, fique calmo. Aqui a lista foi enxuta para 9 itens e possui um mini-sistema. Todas vão de 1-6. Para ter êxito, basta lançar 1d6 e tirar menor ou igual ao valor alocado. A saber, todas as skills do Especialista começam em 1 e você tem 4 pontos para distribuir livremente. O sistema de carga também é um diferencial, trocando a matemática de ficar somando item por item para uma que beira ao abstrato: você tem uma lista atrás da ficha de itens que vai sendo preenchida. Quanto mais itens, mais penal você vai recebendo. Simples assim.

Ponto alto para o Guerreiro, Anão e o Elfo, que podem trocar suas posturas de combate. Esqueça Feats e Habilidades de Classe: no início de um embate você pode oscilar entre postura Padrão, de Esquiva, Investida ou Defensiva. Cada uma delas com bônus e penalidades relevantes. Uma maneira elegante de tornar o combate mais estratégico e recompensando o próprio estilo do jogador, sem se render a qualquer mecânica de talentos ou pontos de qualquer coisa. Basta pintar na ficha, a postura adotada pelo personagem naquela rodada.

A magia é esquisita e poderosa, mas não envolve tabelas gigantes como no DCC (que apesar de adorar, intimida muita gente, confesso). Sendo assim, as magias são esquisitas em sua descrição e efeitos, destaque para Summon, que é um show à parte. Se nas versões mais light de D&D, o mago invoca confortavelmente uma criatura pra ajudá-lo, aqui é uma equação nefasta e caótica, onde o personagem não sabe exatamente o que ele vai puxar de outra dimensão. Os poderes e habilidades desse ser, serão definidos aleatoriamente nas tabelas. Agora: invocar é uma coisa, controlar é outra, certo? Boa sorte nesse teste de Controle da Entidade, explicado na página 137 do livro!

O livro ainda traz três regras bem-vindas: regras pra propriedades e gerenciamento de finanças, regras para Serviçais e regras para armas de fogo. A primeira ajuda a gerir grandes fortunas obtidas eventualmente e dar um senso de aposentadoria para o personagem (como a Rules Cyclopedia fez no passado), os Serviçais podem ajudar os personagens nas aventuras e ajudar a gerir seus empreendimentos (templos, fortalezas, guildas, laboratórios, etc) e por fim, armas de fogo, CASO elas existirem no seu cenário, óbvio. Como o jogo originalmente foi pensado também para cenários históricos (originalmente o cenário oficial seria a Europa do século 17), elas estão lá, marcando presença literalmente no Apêndice do livro. Ou seja, inteiramente opcionais. 

E não poderíamos falar de Lamentations sem falar dos seus incríveis cenários/ suplementos. Bom, você está cansado de matar orc, goblin e troll? Experimente jogar em Carcosa, terra do Rei de Amarelo e lar de muitos povos bizarros, experimente ficar no meio de uma sinistra e surreal guerra fria entre a Condessa de Sangue e um Lorde Vampírico em A Red & Pleasant Land. Visite a soturna e vertiginosa cidade de Vornheim. Explore Isle of the Unknown repleta de criaturas e entidades estranhas. Ou quem sabe, adentrar tuneis intermináveis e conhecer a escuridão viva de Veins of the Earth. Já ouviu falar da terra congelada e impiedosa de Frostbitten & Mutilated? É simplesmente impossível não se inspirar com os suplementos de Lotfp! Lembrando que todos eles (inclusive as aventuras) podem ser facilmente adaptadas para sua edição favorita de D&D!

Pretendo ser enterrado com esses livros!
Conclusão

Eu já joguei Lamentations usando Ravenloft como cenário (cheguei a reportar AQUI) e o jogo foi incrível. Também já conduzi uma aventura de 3 sessões usando Lankhmar como cidade-cenário e o jogo foi incrível também. Atualmente, estou montando uma campanha de The Keep on the Borderlands usando esse incrível livrinho e estou bem empolgado de revisitar o Forte sob uma visão sombria! A saber, o livro está disponível gratuitamente em uma versão sem ilustrações NESSE LINK e até na Amazon brasileira NESSE LINK para a versão física do jogo. Altamente indicado para fãs de jogos com pegada old school e dark fantasy. Recomendadíssimo! 

Abraço a todos e bons jogos!

4 comentários:

  1. Não era jogo ou suplementos que tava envolvido em uma polêmica com um escritor?

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    1. Sim, houve uma denúncia da ex-namorada de um dos autores, no caso o Zak Smith. Mas nada comprovado, julgado ou condenado.

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  2. Po se precisar de gente pra essa campanha de Keep on the Borderlands chama ai

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