domingo, 3 de julho de 2016

Por que não existem Talentos e Perícias no Dungeon Clawl Classics?

Ainda bem que esse personagem era um escriba!
Arte por: Russ Nicholson
Adendo: a intenção aqui não é desmerecer o D&D e nenhuma de suas versões, tenho todas elas, jogo todas. O artigo serve apenas para ilustrar como o DCC criou soluções inteligentes para evitar justamente o engessamento das mecânicas debatidas.

Olhando os fóruns e grupos de discussão sobre o Dungeon Clawl Classics, vejo pessoas muito intrigadas com o fato do DCC não possuir uma lista de perícias ou talentos. Ora, acontece que o DCC é um RPG simples e direto, voltado à história. Para entender a reflexão proposta, vamos entender como nasceram os talentos e perícias na 3ª edição do Dungeons & Dragons.

Tais mecânicas nasceram como uma promessa refrescante de customização. A premissa, pelo menos na teoria, era ótima: seu guerreiro será diferente de outros guerreiros. Mas joguei por anos a fio a 3ª edição (e sua revisão) e o que via em toda mesa, eram guerreiros pegando os mesmos Trespassar e Ataque Poderoso. Quando a Wizards viu que as classes, visavam sempre os mesmos talentos (que raio de customização é essa, certo?), partiram para criar pilhas e pilhas de suplemento para oferecer novas opções, dezenas, milhares na verdade, e isso acabou sendo um “tiro no pé”. Com talentos cada vez mais espalhadas pelos livros e suplementos obscuros. Pode funcionar quando você está na escola e tem tempo de ficar estudando cada talento. Mas tente fazer o mesmo trabalhando de segunda a sexta, tendo contas para pagar no final do mês e às vezes, com filho pra cuidar. Para mim não funcionaria.

Quanto as perícias, achava bem irritante os pontinhos que cada jogador recebia ao passar de nível para distribuir em sua ficha. Os Mestres mais atentos ficavam de olho para evitar “erros de cálculo” por parte dos jogadores (erros esses, propositais ou não). Daí eles faziam a engenharia reversa para saber se os pontos estavam devidamente distribuídos e obedecendo ao limite de nível do personagem. Agora, tente fazer essa engenharia reversa com um grupo de 7 personagens de nível 11. Putz, quem gosta de matemática deve se amarrar nisso! Eu não.

Mas então, agora eu te respondo: Dungeon Clawl Classics possui sim, perícias e talentos. Mas eles foram transformados em ferramentas de interpretação e customização diretamente ligados à criatividade do jogador. Por exemplo, quando você constrói seu personagem no DCC, você sorteia uma ocupação inicial, uma profissão que exercia antes de se aventurar. Durante a partida, se surgir um teste onde sua antiga ocupação possa ser relacionada, o Juiz (a alcunha do Mestre no DCC) permite que lance 1D20 e ajuste com seus modificadores em questão. Caso o teste evolva algo de fora do escopo pregresso, ele lançará apenas 1D10. Pronto! Nada de listas de perícias e 13 pontinhos para distribuir.

E os talentos do DCC como funcionam? Simples: os jogadores devem MERECER essas habilidades especiais e não as obter simplesmente porque chegaram a um determinado nível. Os exemplos são infinitos, limitados apenas pela criatividade dos jogadores e do Juiz:

- Deseja aprender a usar uma arma exótica? Procure o povo que a confeccionou e convença-os a ensiná-lo.
- Deseja aumentar seu atributo Inteligência? Será que aquele sábio das lendas que mora no topo da Torre da Cicatriz irá recebe-lo como aprendiz?
- Deseja trazer um amigo de volta a vida? OK, você pode: basta encontrar um portal para a Terra dos Mortos e resgatá-lo da entidade conhecida como Devorador de Almas em sua fortaleza de obsidiana.
- Deseja se aprimorar no uso da Espada Longa? As pessoas dizem que o antigo condestável da região era um exímio espadachim, mas se mudou anos atrás para a Capital. Será que ele poderia passar seu legado a um desconhecido? Por qual preço? Em ouro? Um favor com dilemas morais?
- Deseja a benção de uma determinada divindade? Ouvi dizer que o templo ao leste do deserto, fora tomado por homens-feras que o profanaram. Um favor por outro, certo?


Perceberam que as perícias, talentos e habilidades especiais estão ligados puramente à história? Isso é Dungeon Crawl Classics. Abraço e bom jogo para todos!

10 comentários:

  1. Isso foi a coisa que mais me chamou a atenção no DCC. Você faz tudo no tempo de jogo, inclusive adquirir talentos, perícias e aumentos em atributos. Perícias que você conhece, você joga um D20 podendo ser um dado maior se você for realmente entendido ou especialista no assunto. Nunca gostei da ideia de modificadores fixos, tinha uma hora nos jogos que o ladino nem precisa mais jogar o dado pra desarmar armadilhas ou detectar elas.

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    1. Exatamente. Eram coisas que me incomodavam também. Obrigado por ler e comentar aqui no blog. Abraço.

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  2. Infelizmente ainda não joguei o DCC, mas me interessei por ele justamente por achar que ele tem um "plot" diferente do D&D, com pré-aventureiros que acabam nessa vida e enfrentam ameaças mais bizarras sobe um clima maior de medo do desconhecido.

    Agora sobre o assunto de perícias/talentos, defendendo um pouco o d20system, eu discordo de alguns pontos:

    *Em todas mesas que joguei achei que é bem fácil e comun customizar sua classe, principalmente o guerreiro, com os talentos e perícias! Alguns gostam de empunhadura primata + foco em arma + especialização em arma e uma arma bem grande com bastante dano, alguns gostam da expertise tática do tresspassar + esquiva, alguns adoram 2 mãos e partem pra esse tipo de perícia! Outras classes como druidas podem se focar nas formas selvagens, nos companheiros animais, magos podem se especializar em escolas ou em maximizar suas magias com talentos metamágicos, etc.... Acredito que tenha sido uma exclusividade das mesas de D&D 3.x que você jogou a falta de customização, pois o que não falta no sistema é isso!

    *Sobre os pontos de perícia, pelo que você disse faltou só controle NORMAL do mestre! É normal os jogadores errarem anotações (proposital ou não) em qualquer sistema... existem diversas planilhas free na internet de apenas 1 folha onde você anota todas estatísticas básicas de até 4 jogadores de forma extremamente simples, nunca foi necessário engenharia reversa. E se você mesmo quiser anotar, dá pra anotar quantas fichas você quiser em 1 folha, quando os jogadores passam de nível obviamente você acompanha e anota também no seu resumo! Se quiser tenho um modelo que traduzido do inglês perfeito.

    *A parte narrativa "independe de sistema", nas minhas mesas deve existir o mínimo de interpretação para que ganhem qualquer talento/classe de prestígio e até perícias! Lógico que não existe "regra" no D20system que obrigue o jogador a isso, mas por exemplo as classes de prestígio são em sua maioria bem descritas com lore bem interessante de como adquirí-las! Um exemplo recente em uma mesa minha é um elfo/ranger que quer pegar a prestígio "Iniciado da Ordem do Arco", e no livro que existe essa classe diz que só um ordenado pode iniciar outro, que eles são geralmente andarilhos e que você precisa dar uma prova de capacidade com arco para que ele te inicie. Logo o jogador foi atrás de pistas de quem ou onde poderia achar um iniciado enquanto evoluiu suas habilidades com arco para conseguir impressionar o ordenado e finalmente se tornar um iniciado! Com talentos e perícias eu faço algo parecido, como mestre eu incluo um lore de como é possível adquirir a nova habilidade (ou evolui-la) e isso pode acontecer durante ou entre as aventuras que eles estão engajados.


    Assim como discordo de algumas coisas, concordo com outas. Concordo que talvez pela "sede" de faturar em cima da marca que se criou no D20system a Wizzard tenha lançados centenas de suplementos oficiais, espalhando muito as coisas, fazendo livros muito específicos e abrindo um leque um pouco desnecessário de opções.

    Concordo ainda que não existem ferramentas na forma de "regras" que incentivem os jogadores a interpretar a aquisição de talentos/perícias deixando isso totalmente a cargo do mestre (não que seja difícil ou cansativo para o mestre, é até bem divertido na minha opinião).

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    1. Concordo com você: o D20 System tem um vasto poder de customização, adorava juntar suplementos para tal, mas infelizmente, não tenho mais tempo pra estudar os talentos e controlar os pontos de perícia. Muito obrigado pela sua participação na discussão e comentar no post. Grande Abraço.

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  3. Me chamou a atenção o sistema erra história ai

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    1. Valeu Arquimago. Continue acompanhando o blog. Abração pra ti!

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  4. Respostas
    1. Opa, que bom que ficou claro, pois eram muitos conceitos e opiniões pessoais para debater. Abraço.

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