quinta-feira, 3 de outubro de 2019

Resenha: The Complete Paladin’s Handbook



     A palavra cniht foi usada pela primeira vez se referindo aos filhos dos plebeus franceses que chegaram a Inglaterra logo após a conquista normanda em 1066. Os soldados cniht chamavam atenção pelos seus conhecimentos de armaduras e cavalaria, tão quisto nessa época. Mesmo assim, eles ainda eram considerados cidadãos de segunda-classe: mais importantes que plebeus, mas inegavelmente abaixo da aristocracia. Com a chegada do Feudalismo, essa situação mudou. Assim como a grafia (anglicizada para Knight). A era feudal inicia com ricos lordes dando pequenas porções de terra como recompensa para aqueles que trabalhavam, lutavam e defendiam as terras em comum. Tal relação era assegurada por um laço de honra e um senso de responsabilidade mútua. Aos poucos, esses cavaleiros iam ganhando mais terras, prestígio, se tornando por fim, uma classe social distinta e honrada, reservada para os filhos dos aristocratas. O status é oficializado no século 11, quando a Igreja Católica promove a ordem frente a crescente anarquia social. Assim, a Cavalaria era destinada aos escolhidos, verdadeiros santos andando entre nós e ritos sagrados pontuavam a iniciação de um novo cavaleiro. Nasce assim o paladino: a idealização da justiça, da honra e da santidade.

O livro inicia com a construção de um personagem paladino, seguido por um estudo aprofundado de suas habilidades especiais e faz isso de maneira bastante interessante. O Detectar o Mal pode ser medido em grau, por exemplo. Para um grau baixo, que pode ser alguém batendo carteiras, o paladino sente uma comichão nos dedos. Para um grau avassalador, uma forte enxaqueca para revelar um dragão vermelho ancião do outro lado da enorme porta. Lembrando que situações ambíguas revelam sinais ambíguos também, uma ótima ferramenta para o Mestre contornar a habilidade sobrenatural do paladino. Por fim, todas essas habilidades são detalhadas: a cura pelas mãos, a aura de proteção, a espada sagrada e a ligação com a montaria especial, que pelo livro, pode ser determinada aleatoriamente. Entre as criaturas possíveis, há olifantes de guerra, águia gigante, grifo, entre outros. Lembro em uma campanha longeva minha de Ad&d, onde o cavalo do paladino foi se transformando aos poucos (como o avanço de nível) em uma espécie de  pégaso-unicórnio.

Ilustrações magníficas!
O capítulo 3 debate sobre o Ethos do Paladino: sobre sua limitação de itens mágicos (que vem desde as edições anteriores), o Dízimo para o Templo de sua divindade, limites de riquezas, como trabalhar o papel de um mentor, como trabalhar a família do paladino (claro, se tiver uma), como ele enxerga e lida com o governo vigente e até a cultura ao qual ele está inserido! Temos ainda como trabalhar conceitos como coragem, honestidade, cortesia, honra, castidade e outras virtudes. A graça aqui, de fato, é montar o seu próprio Código de Cavalaria para o seu mundo de campanha, incluindo as penitencias que deverão ser cumpridas, caso algum dos votos seja quebrado. Bem completo.

O capítulo seguinte é reservado para os kits. Temos o Chevalier (que vai passando de grua dentro da Ordem), o Divinate (que é em suma, um paladino mais ligado à instituição da Igreja, recebe uma esfera a mais de magia divina e paga o dobro de dízimo!), temos o Emissário (um paladino diplomata que tem como objetivo formar alianças com outros reinos), o Equerry (que tem uma ligação tão forte com sua montaria que ela passa de nível junto com ele!), o Ghosthunter (que possui uma tabela de Expulsão própria logo no primeiro nível), o Inquisidor (que além de detectar o mal, pode Dispersar Magias de procedência maligna), o Medician (que é como um paladino hospitalário, com vários bônus para diagnostico, tratar doenças e ferimentos), e o lendário WyrmSlayer, que depois dos rituais de iniciação (que é uma quest pessoal ligada à um dragão), ganha bônus para resistir ao Medo mágico oriundo das criaturas, ganha bônus de dano contra elas, e muitas recompensas mágicas ao destruir um dragão, quase um Dragonborn de Skyrim!

O quinto capítulo fala sobre algumas novas pericias e novos usos de antigas perícias, mas nada digno de nota. O sexto é referente a equipamentos: vestimentas sagradas, exemplos de Espadas Sagradas diferenciadas, brasões, etc. o sétimo é bastante inspirador: debate sobre a idade ideal do paladino no início de sua jornada, mulheres paladinas, como trabalhar o casamento na vida do personagem. Além disso, debate a origem de sua vocação: foi um chamado divino ou foi patronado pela Igreja? Foi um titulo herdado ou por um formalidade da Monarquia? Ainda temos estudos sobre o Amor Cortês e as atividades diárias da Cavalaria. Em muitos momentos, parece que está lendo um suplemento de Pendragon de tão rico e detalhado! Até o final desse capitulo, você fica com vontade de montar uma campanha apenas de paladinos, intrigas na corte, jornadas pelos limites do reino, escaramuças com pagãos e herdeiros para a próxima geração.

O capitulo 8 é focado na Fé. Se sua campanha envolverá uma teocracia, as expressões da fé (peregrinações, artefatos, orações, rituais e simbolismos), a Fé definindo senso comportamental (todos os paladinos devem estar bem penteados e de barba feita, por exemplo). Solicitar jejum por 1d4 dias, nunca tocar em um cadáver, não pode lutar em local santo (como em Highlander!), entre outros. Cada crença tem seu conjunto de dogmas. A seção termina com exemplos de Ordens de Cavalaria prontas para usar e fontes de inspiração, como livros, filmes e tradições históricas. No apêndice, as regras para o Paladino no Ad&d 1st edition e uma ficha customizada para a classe.

No mais, o livro é incrível. Ótima ferramenta (independente do sistema que usar) para deixar seu paladino longe do clichê imaginado. A titulo de curiosidade, encontrei esse livro em um sebo em Copacabana, anos atrás pela pechincha de 7 reais e era o último que faltava na minha coleção de Livros Vermelhos de Classes.

Abraço a todos!

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