quinta-feira, 3 de outubro de 2019

Resenha: Lankhmar, City of Adventure

Apesar das obras de Fritz Leiber nunca terem sido trazidas para o Brasil, infelizmente (a não ser alguns contos pontuais e uma adaptação em HQ, trazida pela Devir), o nome Lankhmar quase sempre marca presença nas listas para referência de Espada e Feitiçaria e nos nichos OSR, juntamente de Elric e do unânime Conan. O autor compareceu a GenCon em muitas edições do evento, então era apenas uma questão de tempo, até surgir um produto vinculado ao AD&D. Sendo assim, houveram 3 versões da Cidade dos Ladrões para o AD&D: a primeira (a que eu tenho e que ilustra esse post) era destinada ao AD&D 1st edition e foi lançado em 1985. A segunda versão, já estava ajustada para o AD&D 2ª edição e por fim, a terceira versão: formatada nas famosas boxed sets.

Mesmo o primeito material, chama atenção até hoje: traz o livro principal de quase 100 páginas, um caderno de 30 páginas trazendo os distritos da cidade divididos em fichas de registro. Fichas essas, que devem ser preenchidas com eventos possíveis nesse distrito, NPCs importantes, grupos operantes e encontros engatilhados. Esse é um recurso ao qual gosto muito, pois ajuda a visualizar de forma objetiva o que está acontecendo em cada setor da cidade, além de gerar ganchos de aventura de forma natural e rápida, pois numa cidade dinâmica como Lankhmar, o grupo irá rápida e constantemente, mudar de um distrito para o outro. Esse é um recurso para ajudar o Mestre a deixar a cidade viva, de fato. O mesmo caderno, oferece ainda as fichas oficiais do imenso Fafhrd e seu parceiro Gray Mouser, os personagens principais da saga. Para fechar o material, ainda temos um lindo mapa-pôster da cidade, trazendo o nome das principais ruas e setores. Note, os “espaços em branco” espalhados: eles deverão ser preenchidos com as fichas de bloco que você montar no caderno mencionado. Elaborar esses blocos é o ponto alto desse material.




No livro principal, temos um estudo do material publicado nos contos e romances dos personagens, passando pela descrição oficial de cada distrito da cidade: famílias nobres que residem nele, mercadores conhecidos, feiticeiros que ali habitam, guildas que ali operam, entre outras informações. O capitulo 3, traz informações das regiões ao redor de Lankhmar, mas elas são bem superficiais, adianto. O que não chega a ser um problema, pois o foco desejado é a cidade propriamente dita. Em seguida, temos as fichas novamente dos nossos heróis e inúmeros NPCs que aparecem nas histórias.

O quinto capitulo é voltado ás Guildas operantes na cidade: suas agendas, custos de afiliação, zonas de atuação, entre outras informações. O clero e as forças militares também são tratados aqui. O sexto capitulo foca-se no panteão: símbolos, tendências aceitas no culto, áreas de atuação, etc. O próximo capitulo traz novos monstros, obviamente, vistos nas obras. Sempre bom lembrar que essas criaturas são bem raras. Como Lankhmar é Espada & feitiçaria, é sempre bom mostrar que o ser humano é mais cruel e monstruoso que tais aberrações.

O livro brilha também no oitavo capítulo, que aborda na atmosfera do jogo, coisas a serem pensadas ao jogar nesse cenário: passando desde o sistema monetário, definindo a Classe Social (importante em Lankhmar), a Barganha (ninguém simplesmente paga pelo preço listado no Livro do Jogador), aqui os personagens e os NPCs, choram o preço, tentando fazer o item ser o mais único possível (“veja bem, só uma moça tão bonita quanto você poderia usar esse anel, eu vendo por 30 peças de prata, certo?). Ou então: “Veja esse detalhe, veja! Não é qualquer espada, meu bom homem! ”

O mesmo capitulo ainda aborda Empréstimos com agiota (o que pode ser bem perigoso na Cidade dos Ladrões!). Taxas alfandegárias, Incêndios, que por motivos óbvios, podem ser catastróficos nos distritos, Subornos, que podem significar a falha ou o sucesso de determinadas missões, festivais importantes e como eles afetam o distrito: “Desculpem, mas o distrito do Mercado está bloqueado para carroças e cavalos essa semana”. Esse tipo de coisa. E não podia faltar numa campanha urbana: Crimes, Sentenças e Fianças para aqueles que cometerem delitos dentro dos muros da cidade.



Os Black Wizards são um grande diferencial nesse cenário.
Na página 80, temos tabelas para gerar construções e NPCs do zero: bem interessante para preencher os blocos de distrito que citei lá em cima. Depois disso, temos uma seção com várias plantas de construção. Precisa rapidamente de um mapa de taverna, mansão, loja ou de um depósito? Só pegar aqui. O nono capitulo aborda as modificações nas regras para personagens desse cenário: por exemplo, não existem raças como elfos, anões, halflings e gnomos. Nehwon é humanocentrista em sua essência. E quanto à magia? Jogadores tem apenas duas opções: Black Wizards e White Wizards. Os primeiros são, a bem da verdade, como os magos são abordados em outros cenários, com toda o leque normal de magias arcanas disponíveis. Entretanto há um custo: após o quinto nível, a cada vez que o personagem passar de nível, ele joga uma tabela de Deformações. A magia arcana, simplesmente corrompe. Do outro lado, temos os White Wizards que combinam o repertório do Clérigo + Druida. E eles ao extremamente raros, pois são reclusos, temendo serem seduzidos pela Magia Negra. Pra ter noção, em termos de regra, precisam ter Sabedoria 15 ou mais. Além disso só sobem de nível com duas condições: se o seu atributo Sabedoria for o maior na ficha e se encontrarem um mentor disposto a ensinar seus segredos.       

As últimas partes do livro trazem ideias de encontros e uma pequena aventura que lembra até a Torre do Elefante do Robert E. Howard, conto clássico do cimério mais famoso da fantasia. Por fim, Lankhmar, City of Adventure é um material rico e valioso para os Mestres. Lembro que comprei esse material por volta de 2008 por 5 dólares e até hoje, já usei no AD&D 2ª edição e até mesmo no Dungeon Crawl Classics, sem precisar adaptar quase nada. Só usando o fluff no material, que é muito bem escrito e inspirador.

Abraço a todos!  

2 comentários:

  1. Fala Ranieri,

    Ficou sabendo que a Sagen Editora está com os direitos dos contos do Fafhrd e Gray Mouser?
    Eles vão publicar o livro “Swords and Deviltry”!
    Foi anunciado no Twitter deles.
    Vale uma matéria para o blog heim? Ajudar a divulgar, assim todos os livros são lançados.
    Abs e parabéns pelo blog.

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    1. Opa, bom dia. Vi pelo Facebook. Em breve farei uma matéria falando sobre. Obrigado e grande abraço!

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